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Capitulo 02 - Verdades e Mentiras

O Jovem índio ajeitou a cadeira e ajudou o homem mais velho a colocar-se nela. Um índio por volta dos cinqüenta anos, cabelos pelos ombros, lisos e negros, cobertos por um chapéu preto de vaqueiro. Usava roupas simples, assim como o rapaz.
Ficaram ali, fitando o porto, o homem com as mãos apoiadas nos joelhos, em sua cadeira de rodas. O rapaz com as pernas cruzadas, apoiado no capô do rabbit. Eu não sabia o que fazer. Senti minha mão se retesando e então uma lasca da madeira da mesa se soltou. Opa! Preciso me concentrar, senão vou acabar quebrando toda a mobília da cafeteria.
Chamei a garçonete, e pedi que me trouxesse a conta. Ela atendeu-me prontamente, eu paguei e disse a ela que ficasse com o troco. Ela havia sido bastante gentil comigo, merecia.
Levantei-me e cuidadosamente dirigi-me até o lugar onde o carro fora estacionado.
- Com licença Senhores, por acaso um de vocês é o Sr Billy Black?
- Sim, sou eu. (respondeu o mais velho)
- E este é meu filho Jacob Black.
- Encantada. Eu sou Satine Volturi.
- Você disse, Volturi?
- Sim, este é meu sobrenome. Na verdade é o sobrenome da família pela qual fui criada.
- É descendente da filha de Marie?
- Na verdade, um pouco mais que isso, o senhor a conhece, ou conheceu?
- Sou descendente dela, Marie faleceu à muitos anos. Mesmo assim, não entendo como você soube desta história incomum, depois de tantos anos. Será possível? A única filha de Marie deveria ter pelo menos oitenta anos!
- Noventa e um, precisamente.
- Você é parente dela? A conheceu?
- Como eu disse, um pouco mais que isso. Eu... na verdade... sou a filha de Marie!
- Mas se é assim, então é verdade! As histórias a respeito de seu pai, você é mesmo filha dele. Mas... Espere... Como assim... Você nunca procurou por ele, sempre estivemos vigiando. Ele nunca procurou por você também.
- Sem chance!
Interrompeu-nos o garoto.
- Ela não é uma sanguessuga! Nem tem cheiro de sanguessuga, veja... (e aspirou o ar bem no meu pescoço, fazendo-me cócegas com seu hálito quente. Eu não estava acostumada a ter humanos tão perto, sempre tentei manter distância. De qualquer maneira, aquele garoto era extremamente quente)
- Não sinto cheiro de sanguessuga, me arrisco até em dizer que o cheiro dela bem... é... diferente, é bom, cheira um pouco doce, mas não enjoativo, está mais para frutas silvestres. Um pouco amadeirado e folhoso, mas não pinheiro, mas como, folhas num dia de tempestade. Sem dúvida é um cheiro bom.
- Bem, depois dessa análise minusiosa de meu cheiro, devo crer que não acredita que sou uma vampira.
- Espera aí, me dê a sua mão, deixa eu ver.
Estendi minha mão em sua direção, ele a pegou um pouco menos gentil do que eu estava acostumada, mas não desrespeitoso. Olhou para ela primeiro, em seguida colocou-a entre suas mãos grandes e quentes, fazendo-a suar quase isntantâneamente.
- Hum... sem chance de novo, é quase quente, como as pessoas e, nem é dura feito pedra. Talvez um pouco mais dura que a maioria das garotas, mas, sem dúvida não é uma sanguessuga. Está até suando.
Eu ri, achei realmente engraçada a comparação. Sanguessuga! Era com certeza uma expressão interessante. Sem contar que, em geral, os humanos se impressionavam mais com nossa aparência física e ficavam um pouco mais atordoados estando tão perto de um exemplar de minha espécie. Aquele garoto não parecia se impressionar comigo, nem um pouco aliás, ao contrário ele mantinha uma certa distância de mim, mesmo sem eu ter lhe mostrado meus dentes. Seria o instinto de aupreservação mais intenso nele? Ou estaria eu superestimando meu poder de sedução? Não entendi bem, de qualquer maneira, eu gostava daquela nova aproximação, era tão mais verdadeira, eu nem precisava fingir, e ele sem dúvida não estava fingindo, nem colocando travas na lingua.
- A única coisa que tenho como prova, é o bilhete, e minha manta de bebê, com a qual fui encontrada. Querem ver?
- Sim, gostaríamos.
Disse o homem mais velho
- Vou busca-la no meu carro. E me virei rapidamente em direção ao lugar onde havia estacionado.
- Eu vou com você, sabe pro caso de querer fugir.
Disse-me o garoto, enquanto me acompanhava até o nissan.
- Sei! eu disse a ele, é claro eu dirigi até aqui apenas para pregar uma peça em vocês dois. Afinal, o que se poderia esperar de uma... como é mesmo... sanguessuga fedorenta.
-Tá entendo o espírito, garota! Mas só pra lhe lembrar, eu disse que você “até que cheirava bem”. Caramba, que carro! É pensando melhor, você deve mesmo ser filha dele, ou melhor ainda, você só pode ser parente deles.
- porquê? Você gostou do meu carro (disse eu sorrindo para ele, numa tentativa de lhe impressionar com meu sorriso mais abrasador, embora ele claramente se impressionasse mais como o carro do que comigo), ou está dizendo isso porque não gostou?
- Ta de brincadeira, não é? Esse carro é... é...
- Legal! (eu o interrompi)
- Legal é um palavrão para esse carro! Ele é um sonho. Um sonho de garotas, com essa cor, mas de qualquer maneira, um sonho!
- Legal, gostei da parte de “sonho de garotas” mas, não entendi a comparação. “Você só pode mesmo ser filha dele!” Porque, ele gosta de carros?
- Ta brincando, eles tem uma verdadeira frota de raridades.
Eu continuei sorrindo, era bom conversar com alguém tão sincero. Principalmente alguém para quem eu não precisava mentir sobre minhas verdades. Pela primeira vez em meus muitos anos de vida, eu conversava claramente com humanos. Estranho.
- Aqui está.
Entreguei a pequena manta, e o bilhete nas mãos de Billy e esperei enquanto ele os observava, franzindo a testa incrédulo de tempos em tempos, derrepente ele arregalou os olhos como se finalmente a visão estivesse clara.
- Então. É verdade! Você existe mesmo! Esperamos por tanto tempo. Meu pai morreu esperando por você. Por alguma notícia a seu respeito. Tentou por todas as vias possíveis para um humano, nunca encontrou algum vestígio, nem um rumo seguer. Nada.
Será que eu havia entendido bem? Eles me esperavam! Queriam que eu voltasse, que mandasse notícias? Porque então haviam me entregado para morrer nas mãos dos Volturi? Afinal, quem escreveu aquele bilhete, segundo as lembranças de Demetri e Aro, sabia exatamente onde estava me deixando e para quê. Havia ainda a carta, a tal carta desaparecida, escrita pela mesma pessoa do bilhete, a carta que pedia aos Volturi que viessem me pegar, que eu etaria na campina. Minha cabeça girou. Eu já não entendia mais nada, não sabia o que pensar, não conseguia enxergar mais nada, era como se tudo estivesse fora de foco, um grande borrão!
Senti uma lágrima se formar no canto do meu olho, aqueles dois eram então, meus parentes, eram realmente meus parentes, era o sangue deles que corria nas minhas veias, misturado ao veneno de vampiro de meu pai. Por uma fração de segundos eu tentei, desesperadamente encontrar naquele garoto ao meu lado, alguma semelhança, algo que eu reconhecesse em mim, nada. Ele não se parecia comigo, nem o pai dele, eu não tinha traços indígenas, era como uma européia, impossível, eu não podia acreditar! Tentei segurar, inútil. A primeira lágrima já havia rolado, e outra, e outra se seguindo. Pronto! Eu estava chorando.
Dei um suspiro entrecortado por soluços. Que cena! Tentei secar com as costas das mãos, quando Billy as segurou, gentilmente, e olhos nos meus olhos. Era como se ele pudesse ver o meu interior.
- Seja bem vinda. Satine!
- Ah que ótimo! Além de tudo, a meio sanguessuga ainda chora! E com lágrimas! (praguejou o garoto)
- Você ficaria mais feliz se eu fosse um monstro terrível e sanguinário? Falei para provocá-lo, embora tenha sído mais como um lamento em meio as minhas lágrimas.
- Bom, pelo menos eu saberia como lidar com a situação. Eu não gosto de ver garota chorando, e você fica aí, com essa carinha de anjo me olhando com esses olhos imensos e esse beicinho. Não é justo!
- Sinto desaponta-lo com a minha sinceridade, vou tentar ser mais malévola da próxima vez. Eu disse tentando ser sarcástica.
- Ah... tanto faz! Se é mesmo verdade, então, Seja bem vinda garota vampiro-lobisomem!
- Vampiro-lobisomem? Como assim? Eu disse-lhe, secando minhas lágrimas na manga da jaqueta, cuja mão eu havia liberado. Até onde eu sei, meio vampira. Essa parte de lobisomem é por sua conta. Antes que o garoto pudesse me responder, Billy o interrompeu, com cara de poucos amigos, como se ele tivesse falado demais.
- Jacob, não encha a cabeça dela com suas bobagens, a garota nem sabe quem é direito!
Ainda segurando uma de minhas mãos, o gentil Billy olhou em meus olhos com um olhar quente e profundo, como eu nunca vira antes e me disse:
- Gostaria de conhecer nossa reserva?
Conhecer a reserva. Então quer dizer que eu era meio índia! Puxa! Isto era sem dúvida, a minha maior descoberta. De todas as pesquisas que eu havia feito, em todos os lugares do mundo por onde eu havia procurado, nunca soube nada a respeito das origens de minha mãe e, como ninguém a conhecera, somente meu pai, e eu não o conhecia. Sempre imaginei que se parecesse comigo. Já haviam me dito que eu parecia muito com meu pai, mas, uma índia, minha mãe? Era difícil supor algo assim, especialmente para mim, eu havia imaginado minha mãe diferente, parecida comigo, doce e gentil, educada. Uma dama, que fazia biscoitos e andava de luvas e chapéu. Sem dúvida, não uma índia. Bom talves isso explicasse meu gênio, se Vitor estivesse vivo, ele estaria gargalhando! Ele sempre me dizia que eu devia descender de algum povo primitivo para ter um gênio tão indomável!
Eu estava totalmente pasma, uma parte de mim queria aceitar o convite, conhece-los melhor. Outra parte tinha medo, medo de que eles não soubessem realmente o que eu era, de que quando soubessem do monstro, me desprezassem. Eles pareciam boas pessoas, pessoas normais. Não iriam querer na família uma... uma... sanguessuga, como me dissera o garoto.
- Se precisar de mais tempo, Billy interrompeu meus pensamentos, para ir até nossa casa. Nós vamos entender.
- Na verdade, Sr Billy.
- Só Billy! Acho que nem sou mais velho que você, ou nem deveria ser.
- Bom, na verdade Billy, tenho a impressão de que vocês não entenderam bem a situação! Eu sou meio vampira, sabe, me alimento de sangue. Super força, não envelheço, não morro – ou pelo menos, quase, não morro. Essas coisas surreais.
- Meu bem, você ficaria surpresa com a quantidade de coisas surreais que temos em nossas vidas. Certo Jacob?
- Certo, pai!
Um olhou para o outro, dando uma piscadinha leve, como se tivessem acabo de contar uma piada. Uma piada que só eu não entendia.
- Venha, fique conosco essa noite. Você dorme?
- Bem deveria mas, ultimamente tem sido bem difícil.
- Então, venha até nossa aldeia, jante conosco, se é que você come. Mais tarde falaremos sobre sua mãe. Tenho muito para lhe contar.
Parecia irresistível! Saber todas as verdades enfim! Saber porque eu fora abandonada, porque fora lançada para morrer nas garras de uma guarda de vampiros. Mas e se eu não gostasse do que viria a saber, e se as coisas não fossem tão boas. E se eu me arrependesse. Tudo já era tão difícil com a dúvida, e se ficasse pior com a certeza. Pensei por um momento.
A vantagem de se estar perdendo, é que se pode arriscar mais! Porque não? E se fossem boas surpresas, coisas que eu gostaria de saber. Além disso, ter uma família, família de verdade, por laços de afeto, de sangue. Tudo com o qual sempre sonhei em minha vida. Além de Demetri, as relações em Volterra eram meio superficiais, amores superficiais, laços de conveniência, por mais que eu amasse, Aro, Marcus e Caius e todos os outros, eu sentia que eles na verdade me temiam mais do que me amavam. Eles temiam tudo que não podiam controlar. E eu tinha de reconhecer que era batante incontrolável, quando queria. Era melhor ter-me ao seu lado, do que contra eles. E eu sentia muito bem as emoções das pessoas com relação a mim, graças aos talentos que eu emprestara de Marcus.
Isso! Num estalo minha mente se clareou. Essa era a resposta! Eu poderia saber a veracidade do convite! Precisava apenas usar um de meus talentos.
Concentrei-me no rosto de Billy, depois no de Jacob. Tão serenos, tão sinceros, nada à esconder, nenhuma intenção por de trás das palavras carinhosas. Tanto amor de um para o outro.
- Eu adoraria. Respondi por fim!
- E... quanto ao jantar... Acho que seria ótimo comer comida de gente de vez em quando, não é um convite muito comum para quem convive apenas com vampiros. E sim. Eu posso me alimentar como uma humana. Embora prefira caçar. Animais – eu disse rápidamente, com medo da reação deles e já esperando os olhos aterrorizados. Só animais, antes que se assustem. Eu só caço animais e de preferência predadores. Humanos não tem um cheiro muito atraente.
- Grande garota, essa é das minhas. (disse Jacob, dando um soquinho de leve, com o ombro no meu)
- Por falar em cheiro, Jacob. Você também tem um cheiro curioso. Nunca senti cheiro parecido em humanos. Um cheiro de carvalho, com pinho, estranho, tem cheiro de floresta. Não é muito humano. Mas também é agradável, claro que nada comparado ao enjoativo cheiro dos sanguessugas, disse-lhe eu dando um sorriso irônico.
Jacob riu comigo, balançando a cabeça de um lado para o outro.
- Tem potencial essa garota!
- Sabe ir até La Push? (interrompeu-nos Billy)
- Não, nunca estive lá.
- Siga Jacob, com seu carro.
- Certo, estarei bem atrás de vocês.
E me dirigi rapidamente em direção ao carro estacionado, me posicionando no banco do motorista. Ainda pude ouvir claramente Jacob resmungar para o pai:
-Claro, fique atrás do habbit, como se fosse possível com um carro como este!
Não pude deixar de sorrir ao comentário. Esse garoto era interressante, talves eu lhe desse um carro parecido com aquele de presente, algum dia.
O caminho até La Push, foi tranqüilo, pegamos uma estrada secundária, por fora da cidade. O que eu achei ótimo, não queria esbarrar por acidente com meu pai, ou sua família. Não por acaso, este encontro teria de ser planejado, e bem. Sem mencionar que eu ainda precisaria me preparar um pouco mais, mesmo achando que nunca estaria preparada.
Durante a viagem, fiquei pensando nas palavras de Billy, “Meu pai morreu esperando que você o procurasse”, como assim? Será que todos naquela pequena reserva sabiam de minha existência? Ou só meus descendentes? Será que eles diriam a verdade aos outros? Ou fingiriamos que eu era uma garota normal?
Sabia que estávamos perto quando comecei a observar pequenas casinhas de madeira pela estrada, escondidas entre as árvores. O habbit parou na garagem de uma das pequenas casas, pintada de vermelho. Ela parecia ainda menor que a garagem, olhando de perto. Eu me perguntei, como um garoto tão grande morava em uma casa tão pequena. Parecia “Alice no país das maravilhas” como se a casa fora encolhida. Era um lugar agradável, cercado de pinheiros altos e ao longe ouvia-se um riacho tranqüilo. Um lugar calmo.
A noite começava a cair escurecendo os pinheiros na noite, eu respirei fundo, soltando o ar pela boca, o cheiro que encheu meu corpo era familiar, um cheiro de floresta, como o que eu sentia, em nossa casa na França. uma pequena luz acesa na varanda da casa, uma fumacinha saindo da chaminé. Eu me sentia arrastada á um mundo de contos de fadas. Jacob interrompeu meus pensamentos, acenando-me para entrar. Eu desci do carro, fechei as portas e acionei a capota, tentei pegar minha bolsa. A chuva começava a dar sinais, formando pequenas gotas de cristal nos meus cabelos escuros.
- Precisa de Ajuda?
Ofereceu-me Jacob, se colocando ao meu lado, já com a mão na porta, para abrí-la.
- Por favor! Estou com uma certa limitação momentânea de movimentos
E sinalizei com os olhos para meu ombro.
- O que houve? Andou brigando gatinha?
- Coisas de meio vampira, sabe como é, minha pele nem parece pedra. Eu disse fazendo piada de suas constatações anteriores.
- Posso ver?
Assenti com a cabeça, e tirei o braço ruim da jaqueta. O ombro já estava melhor, e o braço só um pouco inchado, mas ainda era visível um grande hematoma seguindo do meio do antebraço, até um pouco acima do cotovelo e alguns arranhões que iam até o ombro, onde se encontravam com duas meias-luas ainda fundas e escuras pelo sangue empossado.
- Puxa, garota! Com que tipo de animal você anda brigando?
- Nem imagina? Vamos, use sua imaginação!
- Caramba, devo supor que, se você ganhou a luta, coitado de quem perdeu!
- Bom, suponha apenas que, quem perdeu não vai poder te contar a história!
Contei-lhe, e sorri com meu sorriso mais negro. Mas se acha que estes estão ruins, disse, interrompendo suas suposições quanto à história. Precisa ver este! E olhei para minha barriga.
Levantei cuidadosamente minha blusa e mostrei-lhe o curativo, já escurecido pelo sangue seco. Anda não havia melhorado muito, desde o acontecido. A o contrário, a cada dia parecia mais aberto e inflamado.
O garoto arregalou os olhos diante da ferida, e fez uma cara de nojo. Antes que ele dissesse qualquer coisa eu interrompi:
- E por falar em machucados, será que você poderia pegar minha maleta no assento do carro, por favor?
- Claro, mas só se me contar o que aconteceu.
- Assim que sairmos da chuva, sabe como é, garota, chuva. Não combina muito bem, humanas ou não, mulheres são sempre mulheres, além disso, não quero me sentar a mesa do jantar parecendo um cachorro molhado.
Jacob riu do comentário como se eu houvesse adivinhado algo sem querer. Acompanhou-me até a entrada da casa pela pequena cozinha, onde Billy preparava o jantar.
- Com licença! Lhe disse educadamente
- Entre querida, sinta-se à vontade, a casa é simples mas, você será sempre bem vinda aqui.
- Por falar em “me sentir em casa”, eu preciso refazer meu curativo. Sinalizeu para o machucado e para a maleta, seria muito incoveniente usar seu banheiro para lava-lo? Como ainda está sangrando um pouco, preciso de agua para descolar as ataduras.
- De maneira alguma, querida, fique a vontade, e como eu já disse, sinta-se em casa! O jantar não vai demorar! Gosta de peixe?
- Ah e peça a Jacob para lhe ajudar com o curativo. O garoto anda muito molenga.
Eu sorri diante do último comentário, Jacob com certeza havia ouvido e devia estar mostrando os dentes em reprovação no sofá da sala. Eu poderia gargalhar só de imaginar sua cara de deboche, mas preferi sufocar a gargalhada e apenas sorri.
- Seu pai disse que posso me aproveitar de você esta noite, como um escravo, sabe. Você anda meio mlenga! O que acha da proposta? A última parte quase denunciou minha gargalhada, saindo entredentes.
- Bom, partindo de uma garota como você, que caça predadores e se arrebenta brigando com sanguessugas. Tudo bem. Acho que posso dizer que é uma honra senhorita. É senhorita, não é? Quer dizer, não é casada, ou coisa do tipo?
- Primeiro, preciso que molhe essas bandagens, disse, passando para suas mãos alguns pedaços de gaze de algodão cortado em quadrados. Segundo, não, não sou casada, e sem duvida nada do tipo!
Eu sorri e Jacob sorriu comigo. Enquanto eu tentava limpar o sangue seco de meu ferimento, com as bandagens úmidas, nós nos olhamos longamente, carinhosamente. Era como se nos conhecessemos a tanto tempo. Eu sentia tanta confiança naquela criança que mal aprendera a ser adulto. E pior que isso, eu sentia a reciprocidade vinda dele, como se o fato de estar ao lado de uma vampira, não lhe importasse. Eu era apenas uma amiga. Derrepente ele nos interrompeu:
- Minha amiga Bella, vai gostar de você!
- Sua amiga, tem certeza?Geralmente os humanos não gostam muito de mim, principalmente os que sabem quem eu sou. Pior ainda eu diria das humanas. Porque ela gostaria de mim?
- Sei que parece estranho, mas ela tem um certo fascínio por sanguessugas.
- Ah é? Puxa que interessante! Deve ser um exemplar raro da espécie humana. Ou é louca, ou é burra! Disse-lhe.
Derrepente me ocorreu uma lembrança, uma história inacreditável que eu ouvira de Félix na última visita a Volterra.
Espera aí! Esta é a tal garota que foi para a Itália salvar o namorado louco e vampiro da fúria de meus pais adotivos?
- Pois é, como nós dissemos, você vai ficar surpresa com as coisas surreais que acontecem neste lugar. Além disso, acho que eu atraio mulheres loucas.
Disse Jacob piscando para mim.
- Puxa, Isso sim é uma coisa difícil de acreditar! Esta garota é louca, ela enfrentou Aro, Marcus e Caius só pra salvar o namorado, que por alguma razão queria se matar. História inacreditável. Pena que eu não estava lá! Eu morava já a muitos anos na França, com um amigo, que aliás foi morto. E que por sinal, foi a causa dos ferimentos. Jacob se virou para mim, encostado na pequena pia e disse:
- Bom, então me conta a história toda.
- Vamos lá então, mas não é uma história muito bonita.
- Se algum sanguessuga se deu mal, acho que é uma historia linda! Ah, desculpe, não quis dizer o seu amigo, sabe, quis dizer os sanguessugas maus e perversos.
- Claro! Sem problemas. Tirando toda aquela parte de “era uma linda tarde na capital francesa e blá... blá... blá...” eu cheguei em casa e encontrei meu amigo morto, pensei em várias hipóteses mas não encontrei nenhuma. Ele era um bom homem, vivia como eu, não tinha inimigos. Aí eu fui atacada por dois vampiros recém-criados pelas costas, e percebi a verdade, era uma emboscada para mim, infelizmente, ele acabou estando no lugar errado, na hora errada. E o final, você mesmo viu, me morderam e me unharam, estou viva, eles não. Fim da história.
- Crianças, o jantar está pronto.
- Melhor guardarmos as histórias interessantes para depois.
- Certo! Já terminou o curativo.
- Quase. Terminei de secar e cobri com algumas camadas de atadura, presas com fita. Espere. Pronto! Terminado.
- Até que você é boa com curativos!
- Até que sou boa! Puxa, depois de tantos anos de medicina, ainda bem que sei fazer curativos, nossa você revolucionou a maneira como eu vejo minha carreira profissional.
- Médica então?
- Sim! Últimamente clínica geral, na emergência de um hospital, mas já fui pesquisadora também, fisiologista. Foi como eu descobri um pouco de como meu corpo funciona.
- Ai, ai, mais uma semelhança. Isso é ridículo, você nem conhece ele!
- Como assim, nem conheço ele, ficou loco? De quem está falando?
- Vamos deixar as histórias interessantes para depois. Disse-me ele, como que guardando um trunfo.
Eu assenti de mal gosto, enquanto andavamos pelo corredor apertado.
Billy colocou a cabeça no corredor, pela porta da cozinha e nos chamou novamente:
- Peixe frito á moda de Harry Clearwater, pena que o próprio Harry não pode mais faze-lo para você. Ele ficaria encantado.
Comemos sem muitas palavras. Ainda era estranho estar ali, com aquela família de humanos, comendo comida de humanos, com pratos e talheres. A comida estava muito boa, sem dizer que á tempos eu não tinha uma refeição caseira. Acho que, nem me lembro da última vez. Eu agradeci alegremente quando terminamos e me ofereci para lavar a louça. Billy, lançou um sorriso para mim e franziu a testa para Jacob que se dispôs a contragosto, em lavar ele mesmo a louça. Eu o ajudei, secando e colocando na mesa de madeira rústica.
- Porque todos vocês são assim?
- Assim como? Educados? Agradecidos? Eu o insultei
- Há...há... não! Cheios de elegância e benevolência. Desse jeito meu pai vai me colocar para fora e te dar a minha cama!
- Ah, me desculpe! Eu esqueci que você prefere sanguessugas hostis e mal educados. Vou tentar me lembrar da próxima vez. Prometo! Mas, quanto a cama, pode ficar tranqüilo! Eu nem ando conseguindo dormir mesmo! E se procurar bem, ainda vai encontrar sanguessugas maus e perversos. Querendo, eu devo ter alguns telefones.
- Há... há...
Ele sorriu sarcasticamente, eu sorri de verdade. Estava mesmo me divertindo. Uma noite em família. Minha família humana! Billy, gritou da varanda para que fossemos nos sentar junto a ele.
- Então Satine, por onde prefere começar? Eu tenho muito para lhe contar, mas sei que também tem coisas a nos contar. Quer falar primeiro, ou prefere que eu comece?
- Se não se importa, eu gostaria primeiro de ouvir.
- Claro, vamos lá.
- Marie Black era uma moça muito bonita, mas era também muito inteligente. Seu pai preferiu fazer uso de sua beleza, ao invés da inteligência, e arranjou um casamento para ela, com um guerreiro da tribo. Um homem que ela repudiava. Ela tentou desesperadamente convencê-lo de que ela não o amava, e que não amaria nunca, ele não quis saber. A única solução que a jovem Marie encontrou, foi fugir. Ela tinha um irmão mais novo, meu pai. Ephain Black. Ao despedir-se dele, com a noite alta, ela prometeu que voltaria para buscá-lo, os dois eram como mãe e filho ela o amava demais, e o criara desde a morte da mãe, quando ele nasceu. Com uma pequena sacola nas mãos, ela foi tentar a vida em Chicago. Foi uma atitude extremista, não era fácil para uma moça daquela época viver sozinha. Ainda mais uma moça indígena, que não havia visto nada além de floresta, por toda a sua vida. A vida de Marie em Chicago foi cheia de dificuldades, desde passar fome, até dormir na rua, mas ela agüentou firme, trabalhou duro. Comprou roupas de brancos, sapatos, cortou o cabelo. Nem parecia mais a mesma indiazinha que havia abandonado a aldeia. Durante a epidemia de gripe espanhola, Marie conseguiu emprego em um hospital. Precisavam tanto de mão de obra que nem se importaram que ela não fosse realmente enfermeira. Foi quando ela conheceu o Dr Carlisle Cullen, Seu pai. E se apaixonou.
Jacob deu uma franzida de nariz, como se tivesse nojo ou raiva de minha mãe ter se apaixonado por meu pai. Eu achei engraçado. Ele era mesmo muito espontâneo, eu gostava disso.
- Bem, se meu filho não tiver mais nenhum comentário. Talvez eu consiga concluir a história.
- Vá em frente.
Disse ele ao pai gesticulando com as mões e revirando os olhos
- Marie se apaixonou rapidamente pelo belo Médico que chefiava o hospital. Ele, no entanto, demorou um pouco mais para notá-la, graças a sua persistência e boa vontade para com os doentes. Ele enfim percebeu, e começou a nascer uma grande amizade, claro que Marie desejava mais, ela não compreendia como ele era diferente, tão cuidadoso e gentil, a cada dia ela estava mais apaixonada. Longe da família, longe dos amigos, de seu povo, sua história, tudo parecia ainda maior e ela o convidou para ir até o pequeno quarto que ela alugara para viver. Os dois conversaram muito e se divertiram, era como se o Médico se esquecesse um pouco o horror da doença, na companhia de Marie, ela por sua vez, se sentia renovada com as visitas dele. Assim se passaram algumas semanas. Ela apaixonada, ele começando a vislumbrar nela, mais que uma amiga.
Eu sentia como se estivesse lá. Podia até ver as ruas da Chigago daquela época, pensei em meu pai como Demetri e em mim, como minha mãe. Ela vivera uma história parecida com a minha. Um amor impossível. De maneira diferente, mas uma história parecida. Seria uma maldição de família? Então Bliiy interrompeu meus devaneios com um pigarrear, e continuou.
- Em uma tarde de verão, durante uma das visitas do médico a Marie, ele a beijou. Ela nem podia creditar, claro que havia algo diferente naquele homem, frio, como gelo. Mas ela não se importava, ela o amava e o queria ainda mais agora. O tempo passou, os beijou já não eram suficientes, até que aconteceu o inevitável. Quando ela acordou, ele não estava mais á seu lado, havia ido embora. Ela chegou a procurá-lo no hospital, sem sucesso. Ela entendeu, ele não a amava. Nunca prometera a ela um futuro juntos, ele sempre fora sincero e ela não se arrependia do que havia acontecido, ela o amava e isso bastava. Mesmo assim, a curiosidade sobre quem ele era a estava mordendo devagar, ela começou a pesquisar, claro que ela sabia de suas diferenças, sabia que não se tratava de um humano comum, mas para ela, assim como para nós, o comum nunca fora uma escolha. Enquanto tratava de uma paciente, Elizabeth, ela desabafou, contou a gentil mulher que a razão de sua tristeza não era ter sido abandonada, mas não saber por quem havia se apaixonado. Para sua surpresa, a mulher era ainda mais perspicaz e já havia notado sinais maiores de suas diferenças. Foi quando ela concluiu. Ele era um vampiro. Ela não podia acreditar, um vampiro, justo com ela, com ela não poderia, não um vampiro. Antes que ela pusse se recompor daquela terrivel história de amor a qual se entregara, as coisas pioraram ainda mais, sua barriga já dava sinais, seus seios também. Ela estava grávida, do vampiro. O que ela faria, será que sobreviveria. Ela sabia que também não era simplesmente humana, conhecia nossas lendas, embora não soubéssemos da veracidade delas. Ela acreditava. Acreditava também que conseguiria ter aquela criança. Ela já o amava, seu bebê. Mesmo sendo filho de um vampiro, era seu bebê.
Nesse momento da história, eu percebi que estava com o rosto encostado no peito de Jacob, ele afagava meus cabelos, eu senti novamente, o rubor subir por meu rosto, minha garganta se fechou, meus olhos se encheram e eu chorei novamente, molhando a camiseta branca dele.
- Ah não Satine, não vai começar a chorar, não é? Chorar não, chorar não. Eu não sei o que fazer, quando vejo uma garota chorando. Vamos lá garota. Você luta com ursos, lembra?
Disse Jacob, tentando fazer piada para me animar, eu sorri um pouquinho, de canto de boca, mas não pude me controlar.
- Pode agüentar uma historinha melosa de amor, não pode?. Eu estou aqui, não vamos te deixar.
Suas mãos grandes seguraram meu pequeno rosto entre elas, e ele o afagou. Tão carinhoso. Aquelas palavras encheram meu coração, ele estava mesmo ali. Estava comigo, eles estavam, mesmo sabendo quem eu era. E eles sabiam, sabiam até mais que eu. Estavam ao meu lado. E mais que isso, algo que nunca imaginei, algo que sempre tentei reprimir. Minha mãe me amava, me amava de verdade, mesmo sendo um acidente de percurso, ela me queria, arriscara a vida para eu nascer. Enxuguei as lágrimas com as costas das minhas mãos e me aconcheguei mais no peito de Jacob, Era quente e reconfortante, apesar da pouca idade, ele era um cavalheiro, meio as avessas, mas um cavalheiro. Seus olhos encontraram os meus e ele me olhou profundamente, como se pudesse entender meu sofrimento. Billy continuou:
- O bebê crescia rapidamente dentro dela, ela escondia como dava, não queria que ninguém soubesse, não queria prejudicar o jovem médico, caso ele voltasse. Foi quando os sintomas da doença começaram a aparecer nela, lentamente, um espirro, um febre branda. Ela se calou, tinha medo de que se fosse examinada alguém soubesse o que crescia dentro dela, ela não queria perdê-lo, não permitiria. Como ela havia previsto o médico voltou, envergonhado. Ela o consolou, disse que tudo estava bem. Que ela estava feliz, que não se arrependera em nada, que ele havia lhe feito o maior bem. Ele não entendeu, mas aceitou. Elizabeth piorou, acabou morrendo. Antes de morrer ela disse a Marie que o médico iria salvar o filho dela, que iria curá-lo transformando o garoto como ele. Marie pensou que talvez o médico pudesse salvá-la também, e a seu bebê. Mas, se ela congelaria naquele estado, pelo pouco que ela sabia respeito daquelas criaturas, era o que aconteceria se ele a tranformasse, então de que o bebê se alimentaria? Ele morreria. Não! Ela agüentaria, a doença não a levaria antes de ter o bebê. O filho de Elizabeth sumiu, o médico também. Apenas Marrie imaginou o que havia acontecido. Já não era possível esconder a barriga. Marie não sabia o que fazer, embora soubesse que seria a pior solução, voltou para a casa. Pelo menos não precisaria mais se casar. Quando o pai a viu naquele estado, percebeu que algo não estava certo. Pelo tamanho de sua barriga, ela só havia fugido a quatro meses. Ela soube de suas intenções, estava muito fraca para ficar sozinha, a doença chegara a seus pulmões. Quando sentiu que a hora estava próxima Marie chamou o irmão e explicou-lhe o que havia acontecido, que apesar de ser um vampiro, o homem por quem ela havia se apaixonado era diferente, era bom e humano. Explicou-lhe seu plano. Eles fugiram juntos, o menino entendeu, se era importante para ela salvar o bebê, também seria para ele. Além disso, se ele perderia prematuramente a irmã, pelo menos ela deixaria algo para que ele se sentisse perto dela. Foram para uma região em Olympic, uma grande clareira, onde estariam protegidos. Ela havia contado ao irmão que pesquisara tudo que era possivel sobre vampiros, contara a ele seu plano. Uma família na Itália, uma família de vampiros da realeza, e sobre a atração do chefe desses vampiros por talentos especiais. Ela sabia que ele se interessaria por seu bebê, sabia que a única chance do bebê viver era se ele o adotasse, todos na aldeia queriam matá-lo, achavam que ra uma aberração. E o irmão, era muito jovem para ficar com o bebê, morreriam os dois. Além disso ela não sabia do que o pequeno ser precisaria para viver. Era a única esperança. Ela havia pesquisado sabre a lenda de crianças imortais e sabia que esta era a maneira de atraí-los até o bebê. Com lágrimas nos olhos ela mandou a carta. Três dias depois, você nasceu.
Eu suspirei, imaginando o desespero de minha mãe. Sua falta de opções, e mesmo assim sua esperança em ter o bebê, de que ele vivesse. Meus olhos estavam parados, eu estava imóvel, como uma estátua. As mãos cerradas, quase sem respirar. Então novamente a voz de Billy continuou:
- Assim que você nasceu, ela a segurou em seus braços e a beijou. Era linda, uma linda menina, um bebê perfeito, coradinha e sorridente. Todo o sofrimento havia sido compensado, apenas por aquele pequeno espaço de tempo em que ela teve você em seus braços. Ela morreu algumas horas após seu nascimento, tranquila, apenas fechando os olhos, como quem se entrega ao inevitável. O pequeno Ephain escondeu o corpo da irmã, arrumou você no cesto e esperou escondido na floresta que os vampiros viessem pegá-la. Assim que eles a levaram ele voltou para a casa e revelou que mãe e filha haviam sido mortas por um bando de vampiros, o corpo coberto de sangue da Marie não deixou dívidas. A história se calou. Até que Ephain se tornou chefe. Ele tentou desesperadamente procurá-la, em vão. Quando enfim um vampiro diferente dos outros o procurou, para selar um acordo de paz, ele viu a única esperança em encontrá-la. Embora todos na reserva tenham desaprovado a proximidade com nossos inimigos, apenas ele sabia da verdade, da realidade daquele acordo. Ele pensava que era o mesmo vampiro, pelas descrições da irmã era sem dúvida, ou quem sabe pelo menos ele o conhecesse, fossem parentes, ou amigos. Quem sabe a criança não estivesse com o pai, e mesmo que não, talvez o procurasse um dia. Se você procurasse por ele, ou ele por você, nós saberíamos. Embora Ephrain Black apostasse todas as suas fichas nesse encontro, nunca aconteceu. Meu pai morreu achando que você havia morrido, se culpando por tê-la entregue aqueles vampiros, por não ter tentado aos menos, ficar com você. Ele me contou esta história, por precaução, caso alguém descobrisse algo sobre você. Ainda bem. Graças a ele, você está aqui.
- Obrigado! Foi a única coisa que saiu de minha boca. Obrigado por acreditar, por me aceitar. Por ver além do que sou, por enxergar meu coração. Só uma coisa me preocupa.
- O quê?
- Não quero trazer problemas para vocês e sua tribo. Se os outros me querem longe, tudo bem, de verdade, sem ressentimentos. Fico feliz em tê-los em minha vida, daqui por diante. Podemos nos ver fora da reserva, podem me visitar. O que acham? Só me digam que eu poderei vê-los novamente. Por favor.
- Acalme-se Satine,ainda tenho muita coisa para lhe contar. A história nem terminou! Quer ou não saber realmente suas origens?
Disse-me Billy com sua sabedoria, eu estava tão ansiosa que mal conseguia ficar parada no lugar.
- Claro, desculpe-me! Vou tentar não enlouquecer.
- Como eu disse, naquele tempo, ninguém entendeu a intenção de meu pai. Eles viviam num tempo diferente, tinham medo do que não podiam controlar. Quando seu pai se mudou com a família para perto de nós, as coisas mudaram um pouco. Nossas lendas se tornaram realidade. Todos mudaram de pensamento, começaram a entender que o mundo é bem maior do que imaginávamos. Entenderam o que os antigos haviam feito. Renegando você, renegaram a si mesmos. Nós somos diferentes também, Satine. Também temos nosso lado obscuro, nosso lado monstruoso. E foi apenas por causa dessa diferença que sua mãe pode tê-la. Ela não era uma humana comum. Carregava no seu sangue algo sobrenatural. Se fosse como qualquer outra mulher, não teria conseguido.
Acho que minha expressão acabou me denunciando, Billy olhou para mim, e pude ver através do brilho negro de seus olhos, que eu estava apavorada. Tentei me recompor. Levantei meu rosto do ombro de Jacob e ajeitei o cabelo. Olhando fixamente nos olhos de Billy, pedi que ele continuasse.
- Antes que eu continue, pode me responder uma pergunta Satine, por favor?
- Claro, eu respondi, prontamente.
- Por acaso, alguma vez, você sentiu algo diferente? Algo que os outros vampiros não sentem? Algo que os humanos também não? Talvez um instinto que não pode ser ignorado? Alguma vez, Satine, em sua vida, sentiu algo que não pode explicar? Como se você fosse diferente.
- Pra ser sincera, eu me sinto assim na maioria das vezes! Eu disse sarcasticamente.
- Mas tem algumas coisas estranhas sim. Primeiro, a mais irritante. Quando algo vai acontecer, ou quando estou em perigo sinto como se minha pele se eriçasse nas costas, um arrepio que começa na pontinha da espinha e sobe até os ombros. De repente parece uma corrente elétrica passando por meu corpo, um tremor estranho, como se eu fosse explodir. Quando isso acontece geralmente eu me descontrolo, acabo sendo impulsiva demais. Meu pai adotivo costumava dizer que era impossível me controlar, desde bebê.
Nesse momento da conversa, Jacob estava rindo e acenando a cabeça. Eu fiquei me perguntando se ele também estava caçoando de mim. Eu teria dado umas boas mordidas nele, se não estivesse tão interessada na conclusão da história. Então continuei:
- Existem também alguns extras que eu gosto, como por exemplo, os cheiros. Meu olfato é mais desenvolvido que o de qualquer vampiro que eu conheço, posso sentir perfeitamente um cheiro a milhas de distância e nunca erro, nada. Nenhum cheiro escapa do meu nariz. Além disso, posso sentir o ambiente, entende, literalmente. Principalmente quando estou caçando, ou na floresta. Eu sinto cada detalhe, em meu corpo, não preciso ver, nem ouvir. Se fechar meus olhos, tudo continua claro como o dia. É como se existisse uma conexão. E é claro, o fato de eu me curar numa velocidade inacreditável. Sem dúvida não é coisa de humanos e os vampiros nem se machucam, por isso sei que é inexplicável. Eu me curo quase instantaneamente, exceto quando se trata do veneno de vampiros. Nesse caso, a recuperação é bem lenta. Terminei a frase, colocando de leve a mão em meu ferimento.
- Perfeito!
Disse-me Billy, dando um soco no ar.
- Você acaba de responder todas as minhas dúvidas! Claro que algo de nós deveria estar em você, mas eu não sabia quanto. Agora sei, você é realmente metade seu pai, metade sua mãe. Sofre de coisas de nossa espécie e tem as mesmas vantagens. Certamente por isso também, Jacob não achou seu cheiro enjoativo, nem você o dele. E por isso sua pele é macia e quente. Nós não somos humanos Satine, ou melhor, alguns de nós não são. Jacob por exemplo. Mostre a ela Jake.
- É pra Já!
Jacob levantou-se calmamente, e andou até a frente da casa, abaixou-se quase de joelhos e saltou para frente, rasgando em pequenos pedaços a roupa que usava, transformando-se num imenso e aterrorizante lobo gigante. Eu senti meu corpo todo se retesar e fechei as mãos em punho. Meu coração, de tão acelerado parecia que tentava saltar para fora, pela garganta. Então eu gritei:
- Ai meu Deus! Ele é um... um... filho da lua, um lobisomen!
Tentei me controlar. Fique calma, Satine, Fique calma! É só o garoto, o mesmo garoto! Não vá matá-lo! Senti novamente o arrepio, desta vez eu precisava controlá-lo, precisava conseguir! Eu não queria machucar o garoto, mesmo ele sendo um lobisomen. Fechei os olhos, cerrei os dentes e respirei. Puxando pelo nariz e soltando pela boca. Uma... duas... três vezes.
- Ah garota! Não está com medo de mim, está?
- Claro que não! Eu respondi. Ainda concentrada.
- Então abra os olhos!
- Já vou fazer isso, seu bobo! Estou tentando me controlar.
- Puxa! você está mesmo me ouvindo! Isso sim é uma coisa estranha.
- Estranho porque? (Eu perguntei) Você me pergunta, eu respondo. Por isso se chama conversa.
- Hã hã... Satine, abra os olhos.
Abri lentamente, meus olhos. Não podia ser! Ele estava bem na minha frente! Seu focinho quase tocando a minha mão, deitado na minha frente. Me dei conta.
- Você não está falando comigo, não é?
O lobo balançou a cabeça, fazendo que não, enquanto Billy soltava uma gargalhada em sua cadeira de rodas.
- Ah que ótimo! Agora estou completamente louca! Estou falando com um lobo! Como posso estar ouvindo? Eu não leio pensamentos! Por que estou ouvindo os seus?
Billy nos interrompeu, pedindo a Jake que se transmutasse novamente em humano. Segundo ele, eu estava tão pálida que parecia mesmo uma vampira.
Jake deu a volta pelos fundos, entrando pela porta da cozinha, novamente humano e vestindo uma calça de moleton. Ele se sentou bem ao meu lado, passando seu braço quente e pesado sob meus ombros.
- Confesse! Eu te assustei! Cara, devia ver a sua cara quando eu me transformei! Parecia que ia desmaiar. Foi muito bom, muito divertido.
- Que bom que eu te divirto! Agora se já parou de rir, só pra você saber, eu não estava com medo, tá! Estava me controlando, tentando não te matar!
- Fala sério! Você não tentaria!
- Claro que não, por isso estava me controlando.
- Bom crianças, continuando. Disse Billy.
- Depois desta discreta demonstração do meu filho! Acho que você percebeu porque não somos humanos comuns. Minha teoria para suas semelhanças conosco é que durante sua formação, quando os genes de sua mãe, encontraram os genes de seu pai. Desencadeou-se a mutação. Nós só nos transformamos, quando temos vampiros por perto. Por isso algumas gerações não se transformaram. Por isso Jake se transforma, sua família vampira, mora aqui perto. Somos defensores da raça humana, protetores, contra os vampiros.
- Puxa! Que eu não era normal eu até podia entender, mas lobisomen! Isso é muito pra mim. Coloquei a cabeça entre as mãos em sinal de negação. Espere. Pelo menos assim Caius vai largar do meu pé! Ele odeia lobisomens! Pensando bem, só por isso já vale a pena!
- Tá vendo! Tem suas vantagens! Completou Jacob.
Então era isso! Esse era o maior segredo! Por isso eu não matei a minha mãe! Ela era uma lobisomen! As coisas não estavam muito claras para mim, mas eu sabia que não seria tão fácil clarear. Eu precisaria pensar muito, pensar em todo aquele turbilhão de novidades. Lembrei-me de que provavelmente eles também teriam sua parcela de dúvidas, então eu me dispus a respondê-las:
- Bom, vamos a minha parte das perguntas! O que querem saber?
- Porque nos procurou agora (disse Billy) ? Por enquanto é só o que quero entender. Não quero atormentá-la com mais perguntas, estamos felizes que esteja aqui, teremos tempo para conversar, agora que você já sabe a verdade. Isso é claro, se quiser um lobisomen na família!
- Eu tentei evitar este encontro por toda a minha vida, no fundo meu maior receio era ser abandonada novamente. Portanto acho que isso responde a segunda parte, quanto a “ter um lobisomen na família” Eu os procurei porque preciso de ajuda, pensei em pedir para o meu pai, não tive coragem, então pensei que talvez fosse melhor começar pela parte teóricamente mais fácil. Achei que vocês não iriam mesmo gostar de mim, então seria rápido e quase indolor. Quando entendi que vocês sabiam da verdade, me assustei, mas quis ver até onde iria, então descobri que tinha mais a ouvir do que a contar.
- Porque precisa da ajuda de seu pai, querida?
- Tive uns contratempos na França. Meu amigo Vitor, com quem eu morava, acabou morrendo, eu fiquei sozinha e ferida. Precisava de ajuda, precisava me esconder. Não queria procurar minha família adotiva, precisava primeiro entender o que aconteceu. Desculpe, sinto que estou sendo um pouco vaga, é que essa história ainda não foi bem digerida por mim, prefiro não falar sobre ela agora. Além disso, não quero nem devo ser injusta com os Volturi. Eu lhes devo minha vida e mais que isso, eu os amo, foram minha única família, até hoje.
- Fico feliz que tenha gratidão por eles, querida! Isso só mostra que sua mãe tinha razão em escolhê-los. Criaram você muito bem, lhe ensinaram o que é mais precioso. Não se lamente, nem se preocupe, quando quiser e se quiser falar sobre o que aconteceu algum dia, eu estarei aqui.
Levantei meu olhar, meu rosto envergonhado estampado no negror dos olhos do velho índio à minha frente. Como era possível, ele era ainda mais jovem que eu, como poderia ter tanta sabedoria. Sem dúvida ele tinha razão, não era errado tentar proteger minha família, minha estranha família italiana. A verdade é que eles eram o que eu tinha de mais precioso, Haviam me ensinado a ser o que eu era, e me mostrado também o que eu não queria ser. Eu não iria magoá-los. Então, eu pude continuar com os acontecimentos mais recentes de minha vida.
- Como eu dizia, fomos atacados, Vitor morreu, eu estou aqui, mas não estou muito bem.
Quando abri minha jaqueta para mostrar a Billy o ferimento, percebi que a blusinha fina que eu usava por baixo, já estava suja de sangue novamente.
- Vê! Não sei mais o que fazer. Não consigo estancar o ferimento, acho que vou precisar de ajuda, só não sei de quem.
- Porque não procura por seu pai, Satine? Ele é médico, tenho certeza de que pode lhe ajudar. Ainda mais sendo vampiro, certamente ele sabe o que fazer. Sei que será difícil, mas você sabe que será inevitável. Um dia isso aconteceria.
- Eu sei.
E eu sabia mesmo, desde que tomei a decisão de vir para Seatle, eu sabia que isso aconteceria, teria que acontecer, eu teria que vê-lo. Estava tentando me preparar, bobagem! Eu nunca estaria preparada para olhar nos olhos do meu pai.
Jacob interrompeu meus pensamentos com um enorme bocejar.
- Bem, acho que já é hora de dormir! Se não se importam, eu não dormi nada esta noite.
- Por que não fica conosco, esta noite? Sei que não preciso me preocupar com você, mas seria bom se ficasse. Pode dormir na cama de Jacob.
- Há claro! Eu não disse! Seja educada esta noite e ganhará a cama de Jacob. (Praguejou Jake, levantando-se e agitando os braços)
- Fico muito agradecida, mas não quero incomodar. Além disso, realmente não precisam se preocupar comigo, estou bem. Nesse horário não à vigilância policial, daqui a uns quinze minutos estarei em Seatle.
- Não garota, fique! Pode ficar com a minha cama, tudo bem! Já estou me acostumando a dormir no sofá, mesmo. É bom ter cheiro de mulher em casa de novo, já faz tanto tempo, sabe, cabelo na pia, tampa abaixada. Essas coisas de mulher. Ai que saudade! Mas falando sério, deve estar cansada, fique conosco, eu te empresto uma camiseta, se quiser.
- Bom, se é assim, então eu fico. Com algumas condições. Primeiro, você dorme na sua cama, eu sou menor, me ajeito no sofá. Nem ando mesmo conseguindo dormir, assim posso olhar as estrelas e ver televisão. Segundo, preciso de um banho. Terceiro, eu adoraria se pudesse me emprestar uma camiseta, colocar roupa suja em corpo limpo é terrível.
- Ok! Condições aceitas. Vou ver se te arrumo uma toalha limpa.
- Ah... Jake? Obrigado, por se preocupar comigo. Você é um amor.
Joguei meus braços no pescoço de Jacob e o beijei na bochecha. Ele estranhou um pouco, depois sorriu. Certamente, estava nascendo ali uma grande amizade.
Acompanhei Jacob até o armário do quarto, onde ele colocou em meus braços uma toalha de banho um tanto gasta e uma camiseta branca imensa, que pareceria mais um vestido em mim.
O banheiro era pequeno e simples, a água do chuveiro um pouco fria –
ainda bem que eu não sentia frio assim tão fácil. Lavei-me com cuidado onde ainda havia ferimentos e sequei-me, colocando a camiseta que, como eu previra, parecia mais um vestido. Saí do banheiro e encontrei Jacob desajeitado, tentando deixar o o velho sofá um pouco mais aconchegante, parei bem em sua frente.
- Então, o que acha? Perguntei, fazendo pose de bailarina.
- Bem, até que para uma sanguessuga, você é bem bonitinha. Está linda!
- Obrigada, gentil cavalheiro. Respondi reverenciando.
Jacob riu e me apontou o sofá, dei-lhe um beijo no rosto, retribuido por um beijo na testa e um durma bem.
Assim começou outra de minhas noites insones. Fiquei deitada no sofá, sentindo a brisa fria entrar pela janela e olhando a floresta. Tantas coisas passavam por minha cabeça, tantas respostas. Respostas até para as perguntas que eu não tinha. Meu pai, quando pensava nele, sentia uma dorzinha chata no meu peito. O momento do encontro se aproximava e quanto mais eu pensava nisso, menos estava preparada.
A noite passava, já não chovia mais, o céu estava estrelado. Levantei-me e apoiei os braços na janela para respirar a noite mais de perto. Passos se aproximaram, mas antes deles o calor do corpo de Jacob já o havia denunciado.
- Sem sono, garota?
- Na verdade, ultimamente não tenho conseguido dormir mesmo. Nem me lembro quando foi minha última noite bem dormida. Tenho tido pesadelos, sabe, acho que por isso acabo não conseguindo dormir. Mas, estou bem, pode voltar a dormir. Vou ficar bem.
- Eu sei que vai. É uma Black!
Jacob se aproximou lentamente, encostando de leve seu corpo no meu e beijando meu cabelo,no topo de minha cabeça. Era tão confortável estar com ele, como se tivessemos uma ligação. Seria algo genético, ou simplesmente nos reconhecimos por termos os mesmos dilemas. Não sei.
Nos sentamos no sofá, Jake se ajeitou e me puxou para seu peito, afagando meu rosto, depois disso, só me lembro de ter fechado os olhos. Adormeci.
Na manhã seguinte, quando recobrei meu consciente, não pude conter a felicidade e o espanto. Eu havia dormido a noite toda! Nada de pesadelos, nada de nada. Jacob ainda dormia, meio desajeitado no pequeno sofá. Livrei-me cuidadosamente de seus braços, não queria acordá-lo. E levantei-me, estava tão animada, tão feliz! Mesmo sendo a primeira a acordar, eu havia recuperado todo meu sono atrasado, e estava muito disposta.
Ouvi ao longe passos se aproximando, mais perto, mais perto. Antes que o visitante batesse na porta, eu a abri.
- Hã... desculpe! Acho que bati na porta errada.
Quando abri minha boca para responder, senti as mãos quentes de Jacob nos meus ombros e deixei que ele mesmo explicasse.
- Tudo bem Paul, casa certa!
Eu pude sentir a risada de Jacob, diante do garoto totalmente sem jeito na nossa frente. Eu só não entendia porque. Olhei para baixo e percebi. Eu estava só de camiseta, com o cabelo embaraçado e cara de sono e Jacob de calça de moleton, sem camisa e a mesma cara de sono. Claro! Por isso o pobre garoto estava sem jeito, pensava que havia atrapalhado algo. Balancei a cabeça sorrindo.
- Não sei o que está pensando, Paul, certo? Mas pode ficar tranquilo, não tem nada a ver com isso.
- Claro que não! Jake aqui não estaria com uma gata dessas, sem dúvida. Não é garoto?
- E aí garoto? Disse que precisava nos contar algo, que queria uma reunião. Eu vim para saber do que se trata.
- E quem foi que te nomeou porta-voz da matilha?
O garoto a nossa frente fez uma cara feia para Jacob, como se ele tivesse falado demais.
- Tudo bem, Paul, ela sabe de tudo!
- Contou pra sua namorada! Eu não acredito, como se já não bastasse aquela outra garota. Acha que pode sair contando nossos segredos para todo mundo assim. Sam não vai gostar nada disso.
- Fique tranquilo, meu pai já conversou com Sam a respeito de Satine. Se lembra de uma antiga lenda sobre uma criança, metade quileute, metade imortal? Pois bem, aqui está! Aliás, ela não é minha namorada, é minha tia avó, ou melhor bisavó. E sabe de nosso segredo porque também tem os seus, certo Satine?
- Sem dúvida, Jake! Mas, como eu disse não quero causar problemas, eu já estava até de saída mesmo. Tenho um dia longo pela frente.
- Espere, então era isso que queria nos mostrar. Você a encontrou!
- Na verdade, ela nos encontrou! Quando ela ligou para o meu pai, ele procurou Sam e disse que talvez a tivesse encontrado. Eu só queria confirmar que é ela mesma.
- Olha, Satine, certo? Não precisa ir, desculpe, acho que entendi tudo errado. Pensando bem, se quiser ficar, será ótimo! Não é sempre que temos uma garota tão linda assim aqui na reserva. Hum... e com um cheiro tão bom! Sem dúvida você não cheira a sanguessuga!
- Puxa, que bom! Agora posso acreditar realmente que meu cheiro é agradável! Mas falando sério, eu preciso mesmo ir, tenho alguns assuntos urgentes para resolver. Fico feliz e lisongeada com sua afirmação a respeito de minha aparência. Se não se importarem, me verão bastante por aqui, agora que sei o caminho.
- Satine, eu gostaria de marcar uma reunião com os membros da matilha para lhe apresentar, tudo bem?
- Claro, seria adorável! Principalmente se todos forem assim tão gentis, como Paul.
- Paul! Gentil! Garota, aqueles sanguessugas bateram com muita força na sua cabeça! Não está vendo que ele está descaradamente dando em cima de você!
- Não seja bobo, garoto! Eu tenho idade para ser avó! dos dois!
Paul segurou minha mão gentilmente e a beijou, olhando-me nos olhos com seus grandes e belos olhos negros.
- Não é o que eu vejo, quando olho para você!
Por um momento eu fiquei imóvel, totalmente perdida naquele olhar. Ele tinha razão, quem nos olhasse diria que temos a mesma idade, talvez ele parecesse até um pouco mais velho. E era sem dúvida um lindo rapaz. Alto e forte, com sua pele morena e olhos de serpente. Mas a verdade não podia ser ignorada, eu era muito mais velha e meu coração já tinha um dono.
Eu sorri para Paul, meu sorriso mais arrebatador, agradecendo a gentileza.
- Preciso mesmo ir, se me derem licença, preciso me vestir. Marquem a reunião e terei prazer em participar.
Dei-lhes as costas e caminhei até o banheiro, onde eu deixara minhas roupas sujas, na noite anterior. Ainda pude ouvir alguns comentários não tão respeitadores de Paul sobre mim, coisas de meninos, eu ignorei. Coloquei minhas roupas, arrumei o cabelo, e levai o rosto. Quando voltei, Billy já estava em sua cadeira, preparando o café. Despedi-me dele agradecendo por tudo e prometendo voltar assim que pudesse, e é claro, recusando o café – Minha digestão de comida humana não era algo muito confortável, melhor não exagerar.
Jacob estava encostado em meu carro, com os braços cruzados sobre o peito nu.
- Caramba, você mexeu mesmo com Paul! O garoto tá achando que teve um imprinting! Fala sério! Paul na família, ninguém merece!
- Puxa, eu causei no garoto uma coisa que nem sei o que é! Deve mesmo ser péssimo!
- Bom, essa é uma outra história a nosso respeito que você precisa saber, mas não hoje. Um outro dia, com calma! Precisa procurar seu pai. Precisa tratar esse machucado aí.
- Obrigado, por tudo! Especialmente, pela noite de sono. Sua presença me ajudou a dormir. Me confortou. Eu nunca poderei agradecer. Nem esquecer.
- Ei, pare com isso! Até parece que está indo embora para sempre. Vem cá me dá um abraço!
- Eu não vou embora, nunca mais! Vocês são minha família agora, e família fica junta, sempre. Eu lhe respondi envolvida por seu abraço.
- Daqui a três dias! No fim da tarde! A nossa reunião.
- Estarei aqui, sem falta.
Entrei em meu carro e dirigi devolta para o hotel. O bom de ser tão cedo, foi que pude dirigir como gosto. Nada de vigilância policial, nada de movimento, só eu e a estrada. Respirei fundo, não seria nada fácil o que eu enfrentaria hoje.
Assim que cheguei ao hotel, subi rapidamente para meu quarto. Tirei as roupas sujas e liguei o chuveiro para encher a banheira. Depois de um longo banho, em frente as minhas malas abertas. O que eu usaria hoje? Como deveria me vestir para conhecer a pessoa mais importante da minha vida? Achei melhor apostar no tradicional, afinal meu pai deveria ser um homem clássico, e de bom gosto.
Uma saia preta e justa, abaixo dos joelhos. Uma blusa também preta sem mangas e com decote quadrado. Meias pretas de inverno com sapatos de salto alto e um casaco na altura da saia, cinza chumbo. Assim eu iria ver meu pai! Desci as escadas e coloquei meus óculos de sol. Seria hoje!


Autora: Bia Kishi

1 comentários:

Carla Black disse...

Gente, to boba.. Dr Carlisle tem uma filha, legal...

e mais ainda que tem o meu lobo lindo castanho avermelhado no meio...

Parabens a fic está ficando otima, aguardando prx capitulos ansiosa para o desenrolar...

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