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Capitulo 01 - Perdas e Ganhos

Era uma tarde agradável de outono, minha estação favorita, o ar bucólico da cidade luz me deixava saudosa, me fazia pensar em coisas boas, lembranças agradáveis de pessoas amadas. Eu havia preferido caminhar naquela manhã para o trabalho, deixando na garagem meu mais novo mimo – uma Ferrari Áurea preta. Gostava do centro naquele horário, as calçadas cobertas de mesinhas esperando à hora do chá, pessoas felizes, crianças brincando, cães passeando com seus donos pela grande praça, e as luzes da bela torre Eiffel começando a iluminar à tarde, então retornava calmamente para casa ladeando o rio Sena.
Para mim sem duvida era fácil caminhar, apesar da roupa não muito esportiva que eu usara naquele dia – calça branca de alfaiataria e camisa de seda lavanda, geralmente precisava de artifícios para mostrar mais idade – quem confiaria à emergência de um hospital a uma recém formada.
O trajeto caminhando consumia algo em torno de duas horas para uma pessoa comum, e eu deveria parecer humana enquanto caminhava – o fazia com especial prazer, aquele trajeto conhecido com o soprar da brisa fria de outono na minha pele – brisa fria, toque frio, mais lembranças na minha mente. Eu precisava pensar um pouco, e fazia isso melhor quando estava em movimento.
Olhei para o meu pulso, minha delicada pulseira em escamas de ouro branco, de onde pendia um pequeno relicário em formato de coração. Esse era sem dúvida, o presente mais precioso de toda a minha existência. Não pelo valor real do objeto, certamente as jóias do antigo império Romeno e da coroa britânica com as quais meu pai Aro me presenteara durante todos esses anos - e ele adorava me dar presentes – eram bem mais valiosas.
Esta em especial, pertencera à mãe de meu amado e me fora dada de uma forma ainda mais especial – quando fechava os olhos ainda podia ver a cena perfeitamente. No dia em que deixei Volterra para começar minha pesquisa sobre minhas origens, ele me esperava ao pé da longa escada em forma de arco do castelo, com uma caixinha nas mãos. Levou-me pela mão até o jardim – meu espaço preferido naquele lugar – abriu a caixinha e tirou a pulseira:
- Fora dada a minha mãe como presente de noivado, esta é a única lembrança que restou de minha vida humana, tenho guardado a muito, esperando que um dia alguém á mereça, quero que fique com ela, Satine, como prova de meu sentimento por você – ninguém nunca poderá amá-la mais. Dentro, coloquei o que mais amo no mundo, assim não se esquecerá de mim, e a separação será breve.
Peguei o relicário na mão e o abri, eu estava lá, um bebe dormindo no lugar mais feliz do mundo, os braços de meu amado. Levei a mão em seu rosto e afaguei levemente, ele a segurou e tocou com seus lábios frios.
- Minha Satine
- Meu Demetri
Um abraço de eternidade e o primeiro toque dos seus lábios sobre os meus – não um beijo, não, ele não me beijara, nunca – mas um delicado toque de lábios fechados, seguido de um beijo na linha do maxilar, entre o rosto e o pescoço e um suspiro – Eu a amo, minha Senhora, e sempre estarei aqui, volte.
Eu sempre voltei.
Demetri era um homem interessante, Um jovem em torno de vinte e poucos anos – ele fora mordido aos vinte e seis – cabelos macios que já foram de muitas maneiras e agora estavam propositadamente, castanho-claro desgrenhados, e pele de giz, um corpo alto e escultural, com músculos de anos de batalha, e boca de sedutor, lábios frios e gentis de quem a pressa se afastou a muito. Quando falava era como se um anjo cantasse, e quando sorria, derretia até o sol.
Claro que colecionava mulheres, imortais e mortais, todas desesperadamente apaixonadas, quando sobreviviam. Ele não ia muito ao castelo, só quando eu estava lá. Ficava nos subterrâneos, cuidando de seus mestres, e nunca sozinho. Heidi sempre estava lá, sua criada particular, lhe trazia tudo que ele precisava e até o que não precisava. Sempre achei que ela não gostasse de mim por isso. Desde que eu chegara a Volterra, ainda bebê, as atenções de Demetri se voltaram a mim, como se eu o tivesse aprisionado. Não houve nada que eu pedisse que me tivesse sido negado por ele, nunca. Por vezes, antes mesmo de pedir, ele atendia. Tínhamos uma conexão estranha, desde sempre, se eu caísse suas mãos me seguravam, se chorasse, me consolavam, se sorrisse me aplaudiam, ele me fazia dormir, me embalava e alimentava. Eu cresci e ele se afastou. Não me tocava mais e evitava me olhar.
Sempre perto como uma sombra, era como se não pudesse se afastar, eu era seu pior pecado e seu melhor desejo. Meu companheiro, meu melhor amigo, mais que isso, parte de mim. Como sinto sua falta. Como eu criei em minha mente situações diferentes, como eu desejei ser uma das muitas mulheres de Demetri, nos subterrâneos de Volterra, sentindo seu corpo junto ao meu, seu hálito de jasmim e framboesa no meu pescoço, o toque de suas mãos frias.
Eu desejava tanto que as coisas fossem diferentes, que o amor paternal de Aro por mim não o afastasse, que ao me olhar ele visse mais que a filha de seu mestre. Que eu não fosse proibida, que ele compreendesse que eu jamais amaria outro em toda a eternidade. Ele pertencia a mim, e eu a ele sempre fora assim, e embora fosse visível á qualquer pessoa a intensidade de nosso sentimento, ninguém nunca perguntou. Nunca falamos sobre ele, tudo caiu nas entrelinhas. Num sorriso, num toque, num abraço, numa saudade. Meu general.
Deixei que as lembranças de minha juventude me carregassem no caminho para casa. Nos últimos tempos eu andava absorta em pensamentos, distante.
Vitor, meu fiel amigo, precisava de mais atenção, mais conversas, ele reclamava sempre de minha fase introspectiva e tenho que admitir que dividir a casa comigo, não era muito fácil.
Nossa casa era grande e rústica, como uma antiga casa provençal deveria ser, ela pertencera um dia aos pais de Vitor, com o exterior em tijolos aparentes, uma mureta baixa feita de pedra na frente encobria o grande gramado e suas roseiras, na parede um jasmim do imperador subia até a varanda de meu quarto, e junto com minhas madressilvas, alimentava beija-flores ao amanhecer. A grande porta em arco feita com madeira nobre se abria para uma imensa sala com piso de mármore travertino, de onde se podia observar a mobília antiga – ainda intacta. Um piano de cauda – que pertencera à companheira de Vitor. E uma bela escada que levava ao andar de cima. Em frente á porta da pequena cozinha, eu havia começado um tímido jardim, que hoje se estendia até a floresta de coníferas, atrás da propriedade. No piso superior, muitos quartos e duas suítes, uma minha e outra de Vitor.
Eu morava com ele, entre idas e vindas, desde a minha volta de Denali, onde vivi por algumas décadas com minhas amigas Tanya, Kate, Irina. E onde aprendi muito sobre mim mesma, e sobre o que eu queria ser. Com elas eu havia confirmado algo que já fazia parte de meus pensamentos, naturalmente. Era possível um vampiro se alimentar de sangue de animais. Desde pequena, me senti atraída de certa maneira pelo cheiro de alguns predadores, a caçada me parecia mais atraente, do que apenas atrair um homem com minha beleza e devorá-lo. Eu gostava da caça, da luta. Embora não tivesse certeza, vivi assim por longos anos, desde que pararam de me alimentar, para desespero de meus protetores. Elas eram amigas de meu pai biológico, mais que isso – se consideravam da família dele. E viviam dessa maneira, assim como ele.
Tanya sempre me dizia que eu deveria procurar por ele, que ele tinha o direito de saber sobre mim e que obviamente não tinha idéia de como aquela história havia terminado. Dizia que nos parecíamos muito, e que qualquer um que o conhecesse percebia a semelhança de imediato. Não só fisicamente – ela me dizia que eu tinha os olhos do meu pai. Mas que me coração era como o dele. Que tínhamos os mesmos ideais. E que meu pai jamais abandonaria um filho, em especial um que nascera dele mesmo – ele já tinha outros filhos adotivos.
Ultimamente andava pensando no assunto. Embora essa fosse a parte mais dolorosa de minha vida.
Vitor era um homem curioso, baixinho, meio careca e nada atlético para um vampiro, mas poderia achar qualquer um, em qualquer lugar. Um rastreador. Ele perdera o posto para Demetri, quando Aro o recrutou. Bem mais velho que eu, ele aparentava ter uns cinqüenta anos, idade que tinha quando fora transformado, então dizíamos que ele era meu tio. Gostava de sua vida aristocrática, nunca se cansava de ostentar, sua família humana possuía descendência nobre, e ele acumulara uma pequena fortuna ao longo de seus séculos.
Falar de mim é constrangedor, eu me achava normal, pequena e esguia, talvez por meus anos no balé – uma de minhas paixões – talvez herança de minha metade imortal. Com os cabelos castanhos avermelhados caindo em ondas desiguais, um pouco abaixo da linha dos ombros e um rosto delicado. Lábios em formato de coração e grandes olhos citrino-amendoados, um tom rosado nas maçãs do rosto em contraste com a pele branca como seda. Desde a infância eu ouvia todos dizerem como eu era bela e graciosa, mas, sinceramente, fora às vezes em que tinha de tirar proveito de meu poder físico de persuasão, eu tentava me misturar à população de mortais comuns, contra vontade de Aro, e agora, contra vontade de Vitor também. Ele sempre me dizia que eu trabalhava demais para uma herdeira. À vontade de Vitor era que gastasse meu tempo com algo mais aristocrata e menos altruísta, afinal, eu era uma vampira – ele nunca me deixava esquecer.
Vitor não entendia o quanto o trabalho no hospital me fazia bem, para mim era um alivio sentir que poderia ser útil a alguém, me fazia sentir menos predadora, menos mortal, mais humana. Eu não conseguia imaginar como alguém poderia viver, sabendo que matavam outros, não que eu não matasse, mas os animais que eu matava para me alimentar eram em sua maioria predadores como eu, bem maiores e mais fortes, então eram chances quase, iguais. Em contrapartida a medicina era outra de minhas paixões, eu já estudara muito em meus anos de pesquisa, era hora de por em prática, e nada me dava mais prazer. Mesmo assim, ele estava certo, eu precisava parar de protelar e viver novamente. Eu prometera a ele, em nossa última conversa sobre o assunto, que ficaria mais em casa, faríamos mais coisas juntos, e iria cumprir. Eu estava meio em dívida, e ele estava triste, eu o amava muito para ignorar.
A estrada que levava a nossa casa era quase imperceptível se vista da estrada, duas grandes fileiras de carvalhos pendiam frondosas, quase a fazendo desaparecer. Nessa época em especial, era mais fácil vê-la, as folhas escuras caiam formando um tapete macio a minha frente. A caminhada estava quase no fim, quando senti derrepente minha pele se eriçar nas costas – eu não gostava desta sensação em particular, principalmente por não saber de onde ela vinha – nunca soube dessa particularidade em nenhum vampiro – então por impulso eu corri, e numa fração de segundos atravessei a estrada e pulei a mureta de pedra, estava na porta.
Analisei o ambiente, primeiro com minha visão apurada, depois com meu olfato sensível. Foi quando eu senti o cheiro estranho de incenso queimando, um cheiro que nenhum vampiro esquece, um cheiro que me lembrava à parte negra de minha vida em Volterra.
Abri a porta com cuidado, vasculhei com os olhos a grande sala, não encontrei nenhum sinal de luta, tudo intocado, exceto pelo piano aberto, esperando que alguém o tocasse – lembrei-me de meu amigo Felix e de uma frase mencionada em uma de nossas aulas de luta – O perigo vem dos sinais que não se pode ver – continuei até a cozinha, de onde se podia ver a porta que dava para o quintal dos fundos, abri com cuidado novamente, lá estava a fumaça púrpura, ardendo sobre o corpo de meu amigo, imóvel, eu corri, tentei tira-lo do fogo, em vão. Seu corpo se desfez em minhas mãos e eu comecei a chorar.
Senti um cheiro diferente, alguém que eu não conhecia, quando tentei me levantar, unhas rasgaram-me dos flancos as costelas e eu senti o sangue esquentar minhas pernas. Sangue. Foi inevitável, a tentativa de ataque misturada ao desespero do jovem que me golpeara, um recém criado, eu o peguei pelo pescoço e girei, sua cabeça se soltou em minhas mãos e eu a joguei na fogueira de Vitor. Dentes me rasgaram o ombro direito e senti o osso de meu braço se partir, de costas era mais difícil, embora eu fosse muito forte, não conseguia me virar com seus dentes me rasgando e meu braço quebrado. Estaria acabado? eu morreria assim? sem nem mesmo saber porque? Senti o choque se formar dentro de meu estomago, lentamente, tomando meu corpo, como kate me ensinara anos atrás e eu insistia em reprimir, não gostava de usar poderes que não pertenciam a mim, desta vez eu permiti, eu o absorvi, deixei que atingisse meu agressor. Ele foi lançado no fim da clareira, no tronco dos pinheiros com o forte golpe que o atingira. Então era fácil, eu podia me defender. Com a minha mente, minha caixinha de surpresas – como Aro me dizia. Este eu nem tive o trabalho de atirar no fogo que ainda ardia, apenas o conduzi com minha mente e ele mesmo se lançou, desesperado, sem nada entender.
Eu não gostava de lutar, me sentia mal, especialmente quando não era uma luta justa. Não me sentia bem em executar alguém daquela maneira, com poderes emprestados.
Olhei para a fogueira que ainda ardia. Não conseguia entender, não fazia sentido que alguém quisesse matar meu amigo, ele não desobedecera nenhuma regra, nós não desobedecíamos, nunca. Ele não representava nenhum tipo de perigo, nem tinha inimigos. Nas últimas décadas moramos ali, quase na floresta, distante da cidade, sem oferecer nenhum risco. Com nossa vida alternativa.
Sentei-me no chão, ao lado do fogo, com uma mão no rosto e outra segurando a ferida aberta em meu dorso. Parecia que o mundo me esmagaria com seu peso.
Foi quando o cheiro dela – a assassina – me sobressaltou, eu a conhecia, era inacreditável – talvez eu não acreditasse mesmo, se não tivesse tido medo desse cheiro por tanto tempo. Ela gostava dele, eles eram amigos. A verdade me golpeou. Não era uma emboscada para ele, e sim, para mim, ele só estava no lugar errado, na hora errada. Recém criados saem de controle facilmente, em especial sentindo um cheiro como o meu pela casa. Se eu não tivesse caminhado até o hospital, já estaria em casa e provavelmente sozinha – Vitor sempre me esperava chegar para ir caçar, ele tinha uma sede insaciável, com certeza era culpado pela redução da população de cervos na floresta - ela queria me matar – e ainda estava lá – talvez ainda tentasse – eu não conseguia me levantar. Como se me corpo estivesse colado ao chão, minhas pálpebras não abriam, a lembrança do medo de minha infância não me permitiu procurar por ela.
Meu corpo queimava e se debatia pelo veneno, eu me contorcia no chão, e lutava para manter a consciência. Mesmo sendo metade vampira, minha outra metade reagia negativamente ao veneno e eu não sabia o quanto seria letal. Não pude mais segurar. Mergulhei na inconsciência. Lembranças de minha vida passavam como flashs em minha mente, uma festa, um sorriso, um abraço, nomes e rostos, trechos de meus livros favoritos, a sensação de dirigir meu carro, o vento em meu rosto. Ele estava lá, no meio de meus delírios, e seu toque suave e frio abrandava o fogo em mim, eu podia sentir, sentir o ar gélido de seu corpo, seu hálito inundando o ambiente. Será que morrer era assim, tão bom, tão confortável. Eu queria morrer, queria ficar ali com ele, pela eternidade, eu tentava ir até ele, me aproximar. Não conseguia, uma força me arrastava como correntes, era como se eu estivesse atrelada á algo, queria me soltar, mergulhar no vazio. Senti outro golpe, minha cabeça doía, já não via nada além do breu iluminado apenas pelo sorriso de meu anjo particular. Não me importava de morrer assim, era bom. Porque eu não conseguia? E aquele cheiro novamente, aquele cheiro perturbador, o que estava fazendo em minhas fantasias, tão perto. Vá embora – eu queria dizer, não saia nada. Lentamente o cheiro se dissipou. Tudo acabou, nada de sonho, nada de nada. Apaguei.
Despertei no meio da noite escura, provavelmente durante a madrugada, meus olhos ainda não acreditavam no que estava ao meu redor, eu sentia como se uma bigorna fora jogada em minha cabeça, todo o meu corpo latejava, eu precisava sair dali, precisava de ajuda. Tentei me levantar, meu corpo não obedecia, tentei novamente, nada. Será que eu estava assim tão ferida? Uni todas as forças que ainda restaram e consegui, me sentei. Precisava saber a extensão de meus ferimentos, um, eu sabia, meu braço, estava visivelmente quebrado, o do ombro parecia um pouco melhor, latejava e queimava um pouco, quando eu me mexia, mas não sangrava mais. Eu me curava rápido. A cabeça certamente recebera um golpe, mas não havia sinal de sangue, só um pouco de inchaço, onde o cabelo cobria. O do dorso estava ruim, era o mais preocupante, eram quaro cortes paralelos e fundos, as unhas. E ia desde o meu flanco esquerdo até as costelas. Provavelmente eu precisaria suturar.
Coloquei-me sobre os pés novamente, vasculhei com os olhos o grande quintal, nenhum sinal de meus visitantes indesejados. Caminhei devagar para dentro da casa. Na cozinha, estava tudo como sempre – Nossa cozinha de faz-de-conta – vampiros não se alimentem dentro de casa. Na sala apenas o piano permanecia aberto, aguardando que seu dono o tocasse – isso nunca mais aconteceria. Senti uma lágrima quente em meu rosto resfriado pelo vento de outono. Eu não poderia, nunca mais, dizer a ele tudo que não foi dito, não poderia mais me redimir, nem pedir perdão, nem tão pouco agradecer.
Sentei-me na poltrona Luis XV, a que Vitor mais gostava, uma relíquia, ele dizia, e chorei. Chorei até que não existissem mais lágrimas, até que meus olhos secassem. Não sabia o que fazer, ou quem procurar. Tudo que eu pensava é que queria ir para a casa. Queria ser acolhida pelos braços que sempre o fizeram tão gentilmente.
O que eu mais queria no mundo, era o que eu menos poderia ter naquele momento. Não que eu tivesse alguma dúvida do amor de Aro por mim, não. Sem dúvida não havia partido dele a ordem, nem de Marcus, ele não seria tão desleal, não era de sua natureza. Se eu o tivesse ultrajado de alguma maneira, ele mesmo teria vindo até mim, e me punido. Caius, meu relacionamento mais difícil. Por alguma razão absurda e sem medida, ele se sentia meu dono. Principalmente depois de meu interesse por Demetri. Ele não aceitava a idéia de me ver unida a um ser inferior, justo eu, que havia sido educada para ser uma princesa, a sua princesa. Mesmo assim, Caius jamais me atacaria ou me feriria, talvez me aprisionasse numa torre, ou me acorrentasse aos pés de seu trono, mas não me feriria. Eu confiava neles, sempre, tudo que eu sabia de família, de amor, me havia sido dado por eles.
Demetri daria sua própria vida por mim, se preciso fosse, assim como eu daria a minha a ele. Disso não restavam dúvidas. Além disso, ele e Félix, eram totalmente fiéis e incorruptíveis, se a ordem não partisse de seus mestres, eles não a executariam.
Fora um ataque por conta própria, um acerto de contas, provavelmente minha agressora me deixara ali, para morrer. Tanto tempo longe de Volterra, ela não tinha idéia de minhas peculiaridades físicas. Isso sem dúvida salvara minha vida naquela noite.
Subi as escadas devagar, a sensação do ataque ainda me assaltava vez ou outra, eu estava com os nervos rígidos, as mãos em punho. Vasculhei o andar de cima de ponta a ponta. Era como se a cena do quintal não fosse real. Tudo estava na mais perfeita ordem, no quarto de Vitor, a banheira permanecia cheia de água, que agora estava fria, sua toalha pendurada ao lado dos chinelos. No meu quarto, tudo como eu deixara naquela manhã. Minha cama feita, o livro de medicina alternativa aberto na página em que eu abandonara a leitura, ontem, quando o sono não podia mais ser ignorado.
Olhei para mim através do espelho da penteadeira. Sem dúvida eu precisava de um banho, estava suja com a terra do gramado e minhas roupas estavam endurecidas pelo sangue seco. Terminei de me despir, já não sobrara muito para tirar, e entrei no banheiro do meu closet. Tentei colocar as idéias em ordem enquanto a água caía.
Eu precisava me esconder em algum lugar, estava fraca, e se minha agressora voltasse, eu não resistiria. Mas para onde?
Poderia me abrigar em Denali, eu sempre era bem recebida por minhas amigas, e estava mesmo com saudades. Além disso, a vida em Denali era boa, Tanya, Kate e Irina eram como irmãs e vivíamos de maneira parecida, claro que eu era bem mais reclusa se comparada a elas, mas lá eu me sentia em casa também. Era como uma outra parte de minha família. E estaria protegida, ainda mais agora coma ajuda de Carmem e Eliazar. Ele descobrira meu verdadeiro talento, assim que olhou para mim. Uma esponja. Era como ele me chamava. Eu absorvia tudo que via, tudo que estava ao meu redor, tinha o dom de ter o dom dos outros, todos, acumulados em minha mente.
Se a idéia era me esconder, Denali sem dúvida seria o primeiro lugar onde a guarda me procuraria, Demetri. Embora ele não pudesse me rastrear – e de meus talentos, esse sem dúvida era o que eu mais gostava. Ele sabia tudo de mim, eu nunca escondera dele o quanto gostava de morar em Juneau, eu nunca escondera dele, nada. Não poderia arriscar, não ferida como estava, se ele me levasse para Volterra, e ele levaria. Eu estaria em risco novamente. Eu sabia quem me atacara naquela noite, mais ainda não sabia porque, precisava entender, me preparar, só então poderia voltar.
Lembrei-me de uma conversa com Kate, há muitos anos. Ela me contara sobre meu pai – meu pai biológico – me falara quem ele era, do que gostava, me falara sobre sua família, seu caráter. Ela sem dúvida, o amava. Eu nunca quis conhecê-lo, sinto que tive medo da rejeição, novamente. Mesmo com a certeza de todos em quem eu mais confio, de que ele não sabe de mim, que nem imagina como aquela historia de um passado tão distante acabou, que ficaria feliz em me ver. Eu sempre tive medo, sempre fugi. Eu tinha certeza, embora não o conhecesse, de que ele era um bom amigo. Em todos estes anos de pesquisa sobre minha origem, todos os lugares por onde andei e as pessoas com que conversei, nunca encontrei alguém que pudesse desmerecer meu pai.Talvez eu devesse procurá-lo, talvez não.
Precisava de um plano, não poderia simplesmente chegar até a casa dele e dizer – oi, eu sou a sua filha, estou aqui porque quase morri e preciso de ajuda!
Além disso, ir para Forks implicava em outra parte de minha vida, meu outro sangue. E esse sem dúvida, não me queria. Eu sabia pouco sobre minha origem materna, só me restara um bilhete escrito por alguém, com um nome, e um sobrenome seguido da frase “Ela sem dúvida é intrigante, protejam-na” e uma pequena manta de bebê, tecida à mão, com a qual eu fui encontrada, naquela campina.
Eu tinha medo de procurá-los, meu pai e a descendência de minha mãe, tinha medo do que encontraria. Enfrentá-los era trazer à tona tudo que eu sempre escondi, eu não fazia parte de nada, não pertencia a nenhum mundo. Não era uma Volturi, não era uma Denali, nem uma vampira propriamente dita, eu era.
Seatle! seatle era uma cidade grande, difícil de me achar e sem dúvida, improvável de me procurar – eu nunca negara minha preferência pelo velho continente. Além disso, eu estaria perto para sentir o terreno, mas longe para não ser notada.
Quando a água parou de cair, sequei cuidadosamente meu corpo e peguei a caixa de primeiros socorros que eu guardara no armário – uma pessoa viva sempre precisava de alguns cuidados. O curativo ficou razoável, pelo menos para um curativo feito por uma única mão, já que meu braço quebrado reclamava a cada movimento, e eu desistira momentaneamente da sutura. Pelo menos não sangrava mais.
Deixei o banheiro, envolta em meu robe preferido – um de seda chinesa, que Marcus me presenteara em uma de suas viagens, desde que perdera sua companheira, meu querido amigo Marcus só se satisfazia completamente, longe de Volterra. Acho que o castelo o trazia lembranças amargas.
Peguei o celular, e disquei para a companhia aérea. Preciso de uma passagem para Seatle, de primeira classe. Em nome de Sra Sofie Lagarderé. Perfeito. Obrigado.
Parei na porta do closet. Levaria muito tempo, o lugar estava abarrotado com minhas coisas, roupas que eu ainda usava, roupas de décadas passadas, coisas que eu nem poderia usar, a não ser que fosse representar uma peça de teatro. Tudo que eu acumulara em quase cem anos de vida. Levaria apenas o que fosse possível usar. Abri minhas malas e comecei a acomodar as coisas nelas. A aurora já havia rompido o céu quando eu terminei. Cinco malas. Empurrei-as escada abaixo, enquanto discava um número de telefone.
Vesti-me de preto, da cabeça aos pés. Não era minha cor preferida, mas era como eu me sentia naquela manhã.
A campainha tocou, provavelmente o táxi que eu chamara. Deixei que o motorista carregasse minha pesada bagagem – seria estranho que alguém do meu tamanho simplesmente erguesse aquelas cinco malas. Levei em meu colo apenas a caixa de madeira de lei com a tampa em prata trabalhada e repleta de pedras preciosas. Presente de Aro, onde guardava minhas jóias. Assim deixei nossa bela casa para traz.
O vôo para Seatle foi tranqüilo, claro que eu não consegui dormir, mas por isto eu esperava, dormir cada vez mais parecia uma tarefa impossível de ser realizada e os acontecimentos mais recentes somente contribuíram para meus pesadelos. Cheguei em solo americano, ao cair da tarde. Um vôo sem escalas, eu nunca encontrara razão para ficar vagando de aeroporto em aeroporto.
Desci do avião e fui pegar minha bagagem com o carrinho, era um tanto quanto desnecessário, mas tínhamos de nos parecer o máximo possível com os humanos. Um Jovem cavalheiro se ofereceu para ajudar-me e eu aceitei.
- Uma moça tão jovem e bonita, viajando sozinha.
- Agradeço o elogio senhor, mas não estou sozinha, estou indo visitar meu pai.
Era curiosa a atração que exercíamos sobre os humanos, embora em geral eu não gostasse de fazer muito uso dela. Somente o necessário. Despedi-me com educação, sem nenhuma reação que justificasse o fato de o cavalheiro continuar a me olhar, até que entrei no táxi.
Um simpático e galante senhor, que aparentemente teria idade para ser meu avô, levou-me até o Sheraton hotel. Por sorte encontrei uma bela suíte sem hospedes. Vitor sem dúvida, só se hospedaria na suíte presidencial, mas para quem não queria ser notada, algo um pouco mais discreto. Com uma rápida olhada pelo quarto, percebi que era perfeita, confortável e simples. Embora fora criada no maior luxo possível, eu não era adepta a ostentação, apenas gostava de conforto e privacidade.
Deixei as malas sobre o sofá, na pequena saleta de minha suíte e fui para a janela. A brisa quente que soprava do mar em nada me era familiar, eu quase não guardara lembranças da praia – não que houvesse algum problema entre eu e o sol – minha pele não era exatamente como a pele dos vampiros, eu não brilhava como diamante, apelas refletia uma pequena luz, nada que a cosmética ainda não tenha inventado. Praias costumavam ser bem solitárias para mim. Eu sempre estava sozinha, meus amigos em sua maioria não podiam desfrutar comigo.
Caminhei até o banheiro, após desfazer as malas cuidadosamente, e afundei-me em espuma na banheira que eu deixara enchendo com meus sais franceses preferidos. Fiquei lá imóvel, tentando clarear meus pensamentos. Como faria aquilo, eu não tinha idéia, os pensamentos de procurar por meu pai eram assustadores. E se ele não me quisesse e se não gostasse de mim. Eu já aprendera a duras penas a lidar com o abandono, não sei se poderia lidar com a rejeição. Além disso, o agravante era me aproximar de alguma descendência da família de minha mãe, eles não me queriam, isso era certo. Atiraram-me aos leões ainda bebê, o que fariam agora se eu me aproximasse. Talvez eu me preocupasse desnecessariamente, talvez nem se lembrassem de mim, afinal, quase cem anos haviam se passado. Como me aproximaria e de quem eu faria isso primeiro.
Vesti-me assim que meus ferimentos começaram a reclamar da água. O ombro estava visivelmente em processo de cicatrização, o braço, embora mais ainda reclamasse, estava se curando, mas o dorso ainda me preocupava. A ferida estava pior, como que apodrecendo minha carne. Estava ainda aberto, eu não conseguira suturar, nem poderia procurar um hospital. Imaginei que pudesse fechar sozinho, mas estava errada. Limpei e fiz assepsia, fechando com mais bandagem a ferida que ainda sangrava. O roupão do hotel parecia confortável. Pelo menos não apertava meus ferimentos Pequei em minha bolsa o velho bilhete que fora achado na cesta. Talvez houvesse algo na lista telefônica com aquele sobrenome, se eu fora encontrada naquele lugar, provavelmente minha mãe deixara algum rastro ali.
Não foi uma procura difícil, não existiam muitos Black’s na lista, apenas um. Billy Black. Reserva Quileute de La Push. Estranho. Um índio, esta era uma associação que eu nunca fizera, aliás, era só o que faltava. A meio vampira, meio índia. Mesmo assim, não custava tentar.
Disquei rapidamente o número e esperei.
- Alô?
-Por gentileza, o Sr Billy Black?
- Quem gostaria?
- Diga a ele que é uma amiga de Marie Black.
Um longo silêncio prosseguiu, tanto que eu achei que a linha tivesse sido desligada.
- Como disse?
- A miga de Marie Black.
- Como pode ser? Impossível.
- Na verdade Senhor, nem mesmo eu sei como lhe explicar, mas se puder e estiver interessado, eu gostaria muito de uma conversa, pessoalmente. Sei que tem muitas perguntas e imagina que eu também as tenha. Ficaria feliz em responder as suas.
Novamente, silêncio. A sensação que tive foi tão estranha que eu nem consegui definir se queria ou não, uma resposta.
- Onde?
- Estou hospedada em um hotel, em Seatle, mas se preferir, posso ir até o Senhor.
- Não, não venha ainda. Primeiro precisamos conversar. Marque um lugar e estarei aí.
- Amanhã, no fim da tarde. Existe uma pequena praça perto do porto. Em Port Angeles. Assim ficamos em área neutra.
- Ótimo, estarei lá.
- Como eu poderei reconhecê-lo Senhor Billy, eu não o conheço.
- Bem, não será tão difícil, um velho índio, em uma cadeira de rodas.
- Nos vemos amanhã, então. Tenha uma ótima noite.
- Igualmente.
E assim iniciou-se mais uma das longas noites em que com certeza eu não dormiria.
A cama, embora muito confortável, parecia cheia de pregos para mim. Cansada de me remexer, resolvi descer e olhar a noite mais de perto.
Tirei minha camisola e vesti-me, tentei usar algo que não chamasse tanto a atenção, afinal eu não queria mesmo ser notada e tampouco queria alguém me perguntando se eu havia sido agredida – Geralmente, era difícil para minha espécie passar despercebida pela multidão, a atração que exercíamos em nossas presas, era bastante inconveniente na maioria das vezes.
Desci e me aventurei a uma caminhada na orla da praia, era bom sentir a areia em meus pés descalços, caminhei assim um longo período, com as sandálias nas mãos. Estava um pouco escuro e percebi que havia me afastado da zona residencial, quando não encontrei muitas pessoas fazendo o mesmo trajeto. Então assim que senti uma aproximação, um homem, com um cheiro não muito agradável, whiskie falsificado e cigarros baratos, ai que mau gosto. Resolvi mudar de caminho – a última coisa que eu precisava naquela noite era ter de me indispor com algum humano insolente, apenas por uma caminhada na areia. Continuei minha caminhada de volta para o hotel, calmamente, A noite estava agradável, embora fosse quase inverno. Pessoas ainda se encontravam na zona comercial de frente para o mar, algumas voltando do trabalho, outras em seus passeios românticos. Era bom ver a vida em seu curso natural. Porque nada era natural para mim?
Voltei para o bar do hotel e pedi uma taça de vinho, pinnot noir, meu preferido. Notei que o garoto que me atendera no bar me olhara sem parar desde que eu descera do elevador para minha caminhada. Diverti-me com sua atitude, principalmente por sua falta de jeito ao tentar cortejar-me no balcão, ocorreu-me que seria interessante conversar com alguém de minha “idade aparente”, então decidi simplificar as coisas para ele e sorri, isso era uma coisa que eu aprendera bem, com minhas amigas Denali – homens gostam de ser seduzidos e não há nada que não consigamos desta maneira. Assim ele me passara o perfil completo da cidade, e seus últimos acontecimentos. Foi válido, afinal se eu seria americana por uns tempos, melhor tentar convencer bem, uma francesa do século XIX, não se confundiria facilmente na multidão. Além disso, eu precisava de algumas coisas para meu conforto, um carro sem dúvida. E algumas coisas eram indispensáveis, aprender a me comunicar melhor, ou pior, dependendo do ponto de vista. Ou pelo menos como alguém de minha idade aparente, na europa isso não era tão perceptível, mas naquela cidade, a diferença gritava para mim desde a primeira vez em que eu abrira minha boca.
Já era quase manhã, quando eu voltei à suíte. A conversa com o garoto do bar me relaxara o suficiente para começar mais um dia. Sem dormir.
Esperei que o dia clareasse, enquanto passeava pelos canais de televisão. Comecei a me produzir, aquela seria uma manhã agradável, eu adorava comprar carros, velozes preferencialmente.
Coloquei um vestido verde musgo,de seda um pouco acima dos joelhos com decote redondo e mangas chinesas. Embora naquela manhã o dia mostrasse ares de sol, eu deveria esconder as marcas ainda visíveis de minha batalha. Nos pés, uma delicada sandália de amarrar nos tornozelos e para finalizar um longo casaco preto e óculos escuros. Pronto! Em minha bolsa de mão algum dinheiro e cartões de contas bancárias que eu possuía na América Junto com meus documentos.
Passei rapidamente pelo saguão do hotel, entrando em um táxi estacionado em frente à porta.
- Para onde senhorita?
- Preciso ir a uma loja de automóveis. Conhece alguma?
- Sim, existe uma grande concessionária no centro.
- Ótimo! É para onde iremos.
Quando entrei na concessionária, logo vi meu escolhido, sobre uma plataforma que girava. Um novo Modelo, sem dúvida.
- Posso ajudar?
Perguntou-me um vendedor.
- Sim, eu gostaria de comprar o Nissan. E apontei para o meu escolhido.
- Gostaria de saber algo sobre ele, ou fazer um test-drive? Temos um em nossa loja destinado a este fim.
- Não é necessário, apenas diga-me. Quanto?
- Bem, Senhora, é um carro de luxo. Não temos pronta entrega, é necessário encomendar. Tem preferência por alguma cor?
- Sim, este marrom avermelhado, está perfeito. Combina com meus olhos.
- Ma... Mas
Agora sim eu estava usando todo o poder de sedução de meu olhar.
- É que este não está à venda, é apenas para demonstração.
- Existe algum problema com este carro? Algo que o impeça de trafegar?
- Não. Na verdade, recebemos ontem da fábrica, está perfeito. É só que, é nosso mostruário, precisamos encomendar o da senhora.
- Então, diga-me. Sr... Michael, quanto a mais vai custar à entrega imediata. Estou com um pouco de pressa e se não se importa, não tenho tempo a perder. Apenas me diga quanto, tenho certeza de que pode encomendar outro para o mostruário. Como prefere que lhe pague, uma transferência talvez, ou prefere em espécie?
Ter dinheiro tinha suas vantagens, nada que não se pudesse resolver na América, com uma bela quantia em dinheiro. Saí da loja dirigindo meu novo brinquedinho. Era um carro adorável, confortável, veloz e com estilo. Perfeito.
Achei melhor passar no hotel e colocar uma roupa menos formal, para o encontro que se seguiria. Calça jeans, sapatilhas de couro marrons com uma fivelinha na lateral e uma blusa florida com decote império. Jaqueta e cabelos soltos. Assim eu parecia mais amistosa, menos bonequinha de luxo.
Dirigi até Port Angeles, normalmente, seguindo o fluxo, embora isso me deixasse um pouco irritada. Eu gostava de correr, sentir o vento em meus cabelos, por isso um carro conversível. Mas não faltariam oportunidades, além disso, o tráfego era intenso, sem dúvida chamaria atenção policial, se dirigisse acima do permitido.
Port Angeles era uma cidade aconchegante, embora pequena e com cara de interior. Eu me sentia estranhamente em casa ali, como se eu já a conhecesse.
Estacionei o meu nissan 370, próximo ao comércio local, em frente à praça. Desci e me sentei em uma das mesinhas que ficavam na calçada, em frente á uma cafeteria. Pedi um café. Embora eu não precisasse de comida humana, algumas me faziam bem e me acalmavam. Café, sem dúvida estava no topo da lista, ao lado de vinho e chocolates.
Meu coração parecia saltar dentro do peito, tive medo de ter uma síncope, se é que um vampiro poderia se dar a esse luxo.
Ouvi um barulho de carro, voltei minha cabeça em sua direção. Um habbit vermelho estacionou dois carros ao lado do nissan. Seria esse o carro?. A porta se abriu.
Eu nem sabia mais se queria que alguém descesse, queira estar enganada. Ou melhor ainda, queria correr, correr e fugir. Senti o sangue corar minha face pálida e respirei fundo. Senti como se fosse hiperventilar. Calma! Sua boba! É só um encontro! Talvez nem seja ele. Eu tentava convencer a mim mesma.
Então, o garoto grandalhão, com cara de menino, desceu pela porta do motorista. Não podia ser ele, não, era muito jovem. Embora fosse de descendência indígena, sem dúvida. Sua pele era avermelhada e bronzeada com o cabelo negro e grosso, curto e desgrenhado. Era muito forte para a idade de seu rosto, o corpo parecia o de um lutador e o rosto de um bebê dormindo. Era bonito, obviamente, mas também muito jovem para se lembrar de minha mãe. Ele atravessou o carro por trás, tirando do porta-malas uma cadeira de rodas.
Meu coração deu um salto. Eram mesmo eles! O que eu faria agora? Meus pés pareciam colados ao chão e minhas mãos à mesa. Essa era a hora.


Autora: Bia Kishi

1 comentários:

Carla Black disse...

eu curiosa, ansiosa, por favor nao demora a postar o prox capitulo, sua fic promete...bjs

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