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Capitulo 05 - Despedida

Foi somente quando os raios de sol começaram a iluminar a pele descoberta da pequena Satine, que eu percebi que noite se tinha ido. Eu permaneci ali, na mesma poltrona, no mesmo lugar, durante toda a noite, apenas velando meu pequeno bebê. Não importa o que parecesse aos olhos dos outros, Satine era e sempre seria, meu bebê.
Ela virou-se de lado e soltou um suspiro profundo, abrindo delicadamente os olhinhos.
- Bom dia! – Satine me disse, entre bocejos.
- Bom dia baby. Como está nesta manhã?
Ela se espreguiçou e sorriu.
- Acho que bem.
- Ótimo! Apronte-se então, eu a espero lá em baixo.
Quando sai do quarto, encontrei Aro. Ele colocou a mão em meu ombro com uma expressão séria – pelo que pude notar, Heidi tinha sido rápida.
Aro me conduziu até o escritório e me pediu que sentasse. Eu sabia que isto não indicava algo de que eu gostaria, mas permaneci em silêncio.
- Demetri, meu caro. Estou preocupado com nossa menina.
Eu tentei permanecer calmo, mas quando se tratava de Satine, eu não conseguia, eu simplesmente não podia.
- Mestre, não sei o que Heidi lhe disse, mas preciso lhe contar que Satine apenas se defendeu. Heidi a ofendeu. Eu vi, eu estava lá.
Aro levantou-se e caminhou até onde eu estava. Colocou a mão em meu ombro e sorriu sem vontade.
- Demetri, meu caro general. Eu conheço Heidi e conheço Satine, não se preocupe. Meus temores á respeito de Satine nada tem a ver com o ciúme de suas amantes. Eu me preocupo com a formação e a educação de minha filha, apenas. Estive conversando com Vitor, e ele me deu grandes idéias. Satine não pode continuar aqui, ela precisa ser educada como a princesa que será um dia.
As palavras de Aro eram como ácido para mim. Eu estava lá, eu ouvia o que ele dizia, mas meu cérebro não processava, eu não conseguia assimilar – ele queria levá-la para longe.
Aro continuou.
- Sei o quanto ela o ama, e sei o quanto você se importa com ela, e é por isso que preciso de sua ajuda. Nós dois sabemos que não é fácil convencê-la de algo que ela não quer – ele fez uma pausa e olhou bem fundo em meus olhos, para então continuar – sabemos que temos um diamante bruto em nossas mãos. Quero que me ajude a lapidá-la.
Eu sabia exatamente o que ele me dizia, mas mesmo assim, eu senti que precisava perguntar.
- O quer que eu faça, mestre Aro?
- Quero primeiro que compreenda a necessidade, Demetri. Não quero que faça apenas porque eu estou mandando, não é uma ordem, eu quero que entenda que ela precisa.
Essas palavras foram ainda mais dolorosas, porque Aro tinha razão. Eu queria o melhor para ela, e sabia que ali, naquele castelo, cercada de vampiros em guerra, ela não teria o melhor. Eu baixei minha cabeça e fechei meus olhos; por um momento eu desejei poder dormir, talvez assim tudo aquilo pudesse ser um sonho, então eu não precisaria dizer adeus a minha princesinha.
- Demetri, eu quero que ajude a convencer Satine á ir para um internato, em Paris.
Eu senti que ia cair. Por sorte eu estava sentado, porque naquele momento, eu não sabia se minhas pernas me sustentariam.
- Paris? Na França? Quer dizer, sim eu sei que Paris fica na França – eu não sabia mais o que estava falando. As palavras saiam sem comando da minha boca – precisa mesmo ser tão longe? Temos bons internatos para meninas aqui mesmo, na Itália.
Meu mestre sorriu, certamente era engraçado para ele ver o que eu tinha me tornado – o bravo general, aos prantos por causa de uma menina.
- Também não me agrada vê-la tão longe, Demetri. Como eu disse, quero o melhor para Satine. Na França ela poderá contar com Vitor, ele tem uma ótima rede de relacionamentos por lá, inclusive com humanos. Aqui na Itália Satine ficaria sozinha. Nenhum de nós poderia acompanhá-la em nada, o que espero – ele deu bastante ênfase ao final da frase – esteja claro para você.
Eu pensei por alguns instantes e cheguei á conclusão de que Aro tinha mesmo razão – nós somos monstros chupadores de sangue, apenas isso. Eu não queria isso para ela, queria que ela fosse melhor.
- Perdoe-me mestre. Sei que tem razão – então, de minha boca, saíram as palavras mais duras em mais de duzentos anos – eu vou falar com ela.
Quando Satine entrou, linda e sorridente, no escritório, eu não consegui olhar para ela. Não, sabendo o que teria que fazer. Ela confiava em mim, e eu teria que fazer algo que nem eu mesmo estava certo de que queria.
Ela beijou a mão de Aro, como sempre fazia e ele a segurou em seu colo. Satine tinha tanta confiança em nós que chegava a doer. A maneira como seus olhinhos inocentes olhavam para Aro e para mim, faziam com que eu me perguntasse se ela realmente sabia o que éramos.
Aro a beijou na testa e segurou seu rosto entre as mãos.
- Bambina, precisamos conversar.
Ela fez um beicinho como se fosse começar a chorar e olhou para mim. Seus lindos olhinhos pareciam me pedir socorro, mas ela se manteve firme, como sempre era, e falou.
- Papa. Desculpe, eu não queria ter assustado ela, eu não ia matá-la, era só brincadeira.
Aro sorriu e deslizou a mão em seu rostinho, secando a primeira lágrima que brotou, contra a vontade.
- Não estou bravo com você, pícola bambina. Na verdade, eu estou muito orgulhoso. Vejo que está crescida e que está preparada para ser uma Volturi.
Os olhinhos de Satine brilharam por um momento, ela amava muito Aro e deixá-lo orgulhoso a fazia feliz.
- Sabe que está crescendo mais rápido do que gostaríamos, não sabe?
Ela balançou a cabeça, assentindo.
- Satine, amore mio, você é minha filha. Desde que nós encontramos você, você sempre foi. Eu sempre a amei como se fosse.
Ela continuou olhando para ele com curiosidade.
- Sendo minha filha, eu espero que um dia, você ocupe meu lugar. Quero que seja uma princesa, e para isso, precisa aprender a se comportar como tal. Vamos levá-la á um lugar onde você possa aprender a ser uma princesa.
- Uma escola? – ela perguntou com curiosidade.
- Um tipo de escola.
- E eu vou ter amigos?
A pergunta que ela fez, doeu no fundo do meu peito. Acho que eu nunca havia pensado nisso. Satine era uma criança, quase como as outras, ela nunca tinha tido com quem brincar. Eu me senti terrivelmente mal e egoísta por nunca ter pensado nisso, e comecei a considerar que a oferta de Vitor poderia mesmo ser a melhor para ela.
- Querida, eu sei que deseja ter uma vida normal, mas sabe que tem algumas particularidades a seu respeito que não devem ser divididas. Por essa razão, seu contato com os humanos deve ser o mais restrito possível.
Ela sorriu e tocou o rosto de Aro com a ponta dos dedos, bem perto dos olhos carmesim dele.
- Papa, não se preocupe, eu não vou dizer a ninguém que somos vampiros!
Não pudemos deixar de rir com ela.
- E é por isso que nós a amamos tanto.
Ela se virou para mim, ainda no colo de Aro, ainda sorrindo e perguntou.
- Demetri pode me levar todos os dias na escola, não pode?
- Não querida, Demetri não poderá.
E eu vi o sorriso escorregar de seus lábios, com o que Aro falou em seguida.
- Você estará muito longe, na França. Demetri precisa ficar aqui conosco.
As lágrimas começaram a escorregar cada vez mais rápido por seus olhinhos. Em instantes todo o peito do vestido azul-marinho, estava molhado.
Ela voltou o rosto úmido e triste para o pai.
- Porque quer que eu vá embora? Eu prometo, prometo que não vou mais brigar. Eu prometo que vou me comportar.
E eu vi o mestre tremer. Diante daquela pequena criança, meu mestre tremeu. Foi quando eu percebi que era tão difícil para ele, quanto era para mim. Deixar Satine ir, era como levar a vida do castelo. Sem ela, voltávamos a ser apenas os mesmos monstros de sempre.

- Satine, píu bella Satine. Eu não quero que vá embora, mas precisa ir. Precisa ter sua própria vida, não posso mantê-la aqui, com esse monte de mortos-vivos sem alma. Você não merece isso, minha criança, você merece o melhor, sempre o melhor. Nunca mais pense que não a quero comigo. Se fosse apenas por minha vontade, você nunca sairia de perto de mim, mas eu sei que não pode ser assim. Estou lhe oferecendo uma chance de viver.
Ela engoliu o choro.
- Mas eu não quero deixá-los – e então ela completou – vocês são a minha família.
Aro respirou fundo, soltando o ar de forma dolorosa pela boca.
- E é por isso que queremos o melhor para você. Quando amamos alguém, como amamos você, queremos sempre o melhor.
Ela não pareceu entender as palavras de Aro. Seu coração estava partido e isso era visível em seu rostinho úmido de lágrimas. Satine se levantou cuidadosamente do colo do pai e saiu. Ela não disse nada, nem uma única palavra, apenas se levantou a saiu.
O silêncio e a ausência de protestos dela fizeram-me entender o quanto a conversa a havia magoado. Eu podia sentir em mim a dor de Satine.
Aro me olhou e também não disse nada. Eu entendi o que precisava fazer, era aí que eu entrava, eu precisava consolá-la. O problema é que eu me sentia tão necessitado de consolo quanto ela. Mesmo assim, eu fui. Eu me levantei da cadeira e caminhei até a porta com a sensação de estar indo á uma batalha, minha pior batalha.
Eu sabia que um dia, teria que abrir mão de Satine para o mundo, mas aquele ainda não era o momento. Enquanto eu andava pelo jardim, eu podia vê-la aprendendo a andar, aprendendo a falar. Eu podia vê-la me pedindo colo, eu podia ouvir seu choro quando ralou os joelhos pela primeira vez. Podia ouvir seu riso quando deu o primeiro passo, quando caçou o primeiro esquilo. Eu podia ver-me segurando a mamadeira em sua boquinha, enquanto ela sugava a vida. Eu não queria deixá-la ir. Por mais que eu entendesse que precisava, ela era tão pequena e frágil, eu queria protegê-la.
Quando me aproximei dela, ela se virou. Seus sentidos diziam a ela que eu estava perto. Ela enxugou os olhos com as mãos e correu para o meu abraço. Eu não sabia o que dizer.
- Você também quer que eu vá?
Pensei em suas palavras por alguns instantes. É claro que eu não queria, mas eu precisava ser forte. Eu precisava ser tão forte e corajoso quanto ela acreditava que eu fosse, e mais que isso, eu precisava honrar toda a confiança e respeito que ela tinha por mim. Eu a amava tanto que não podia privá-la de viver. Eu não poderia condenar minha linda princesinha a ser uma morta-viva, como eu. Satine estava viva, a vida corria em suas veias. Ela precisava aproveitar isso, sentir e viver as coisas que o mundo tinha a oferecer a ela.
- Você precisa ir, baby.
Ela me olhou no fundo dos olhos, e eu percebi o quanto ela havia amadurecido.
- Não foi isso que eu perguntei Demetri. Eu perguntei se você quer que eu vá?
Eu a envolvi em meu abraço, e nesse momento eu me esqueci de tudo. Eu sentia apenas o pulsar do coração dela, sentia apenas o calor de seu corpinho contra o meu. Eu precisava ser sincero com ela.
Deitei sua cabeça em meu ombro e sussurrei.
- Não baby, eu não quero que você vá.
Eu não disse mais nada. As palavras foram amortecidas pela emoção, como se falar fosse difícil demais. Satine não me perguntou mais nada, ficou ali, em meus braços, por um longo tempo – tempo este que eu queria eternizar. Depois, como se tudo estivesse resolvido, ela levantou a cabeça e me olhou com seus olhinhos de chocolate derretido.
- Promete que vai me esperar?
Eu sorri.
- Pela eternidade.
Ela segurou minha mão me arrastando de volta ao castelo.
- Venha, precisamos arrumar as minhas malas.
Eu mal conseguia acreditar. Eu sentia um misto de orgulho e tristeza e dor, muita dor. E ao mesmo tempo, eu não podia deixar de sorrir – minha garotinha estava mesmo crescendo. Eu entendi, neste momento, a intensidade do que Satine sentia por mim. Eu não precisei convencê-la de nada, ela confiava em mim. A única coisa que ela me pediu, foi que eu estivesse aqui quando ela voltasse. Como se eu tivesse algum lugar melhor para ir?

***
Na tarde daquele mesmo dia, depois que eu a ajudei a preparar um pouco do que ela levaria para a França, eu a deixei sozinha. Não que eu quisesse, na verdade, por minha vontade, ela jamais estaria sozinha; a verdade é que eu precisava me acostumar a deixa-la ir. Eu precisava não sentir que um pedaço do meu coração estava sendo arrancado a cada minuto longe dela. Seriam dois longos anos sem vê-la.
Entrei no castelo com o cair da noite, depois de me alimentar. Satine estava na biblioteca com Caius. Eu não gostava da maneira como ele a tratava, ele exigia dela que ela fosse sempre perfeita. Caius agia como se Satine fosse sua propriedade, e ela não era. Na verdade ela não era propriedade de ninguém. Satine é livre, sempre foi.
Caius não percebeu minha aproximação. Eu parei na entrada da sala e escutei a conversa.
- Você precisa aprender a ser uma princesa, querida. Um dia você será minha princesa. Você entende isso Satine? Entende o que significa? É muita responsabilidade. Um dia nós dois estaremos governando tudo isto que você vê aqui.
Satine não parecia se importar com as palavras de Caius. Ela estava sentada sobre a mesa de mogno, balançando as pernas no ar, e assim permaneceu.
- Eu entendo o que você quer dizer Caius, mas não posso fazer isso.
Ela parou e eu percebi que seus sentidos apurados tinham detectado minha presença. Satine voltou a balançar a s pernas e sorriu.
- Eu vou me casar com Demetri – e então ela completou – ele vai esperar que eu cresça.
Mesmo contra minha vontade, minha boca se virou em um meio sorriso. Eu amava o jeito impetuoso com que ela desafiava a todos. Caius por outro lado, não gostava nem um pouco de ser confrontado.
Ele andava impacientemente pela sala, gesticulando e suspirando fundo, como se tentasse encontrar a maneira menos cruel de falar com ela.
- Satine, Satine. Não acredito que prefira um serviçal á mim – suas mãos encontraram o queixo dela, e ele o segurou com a mão, forçando-a a olhá-lo nos olhos – você é uma princesa, como eu. Somos superiores e é por isso que ficaremos juntos.
Satine levou as mãos até as de Caius, e as empurrou, liberando o rosto. Ela sorriu delicadamente e desceu da mesa, aumentando o espaço entre eles.
- Desculpe Caius, mas não vou mudar de idéia.
Eu sabia que era apenas bobagem de criança e que por mais que me doesse, Satine iria me esquecer assim que conhecesse a vida no mundo; mas ouvi-la dizer aquilo encheu meu coração de alegria. Eu gostava da maneira singular com que ela se referia a mim. Ela agia como se eu fosse o melhor e o mais honrado dos homens, e por ela, e realmente sentia vontade de ser.
Caius, por outro lado, não gostou da observação de Satine. Ele apertou o olhar e a encarou, ela não retrocedeu nem um milímetro.
- Eu nunca vou permitir tamanho disparate! Ouviu menina? Eu nunca vou permitir!
Ele saiu, esbarrando em mim enquanto passava – não era novidade que Caius não gostasse de mim, e eu preciso confessar que a recíproca era verdadeira.
Satine virou-se para mim e sorriu.
- Você não devia falar assim com ele – eu disse a ela.
- Eu não gosto quando ele fala de você. Não gosto da maneira como ele se refere a você, me magoa.
Eu sorri e a puxei para os meus braços.
- Hey baby, não precisa me defender, eu já sou bem grandinho!
Satine sorriu e eu a beijei na testa. A cada minuto que eu pensava que meus dias com ela estavam se esgotando, meu coração doía mais.
Naquela noite, eu a deixei dormindo e voltei para o subterrâneo. Eu precisava tirá-la da memória, precisava esquecer tudo e me divertir.
Eu entrei pela porta da antiga adega e me deitei no chão de pedras, cruzando as mãos atrás da cabeça. Não demorou muito, Heidi entrou.
- Demetri, carinho, quanto tempo. Espero que já tenhamos superado a briga com a pirralha.
Eu não respondi. Não queria tocar no assunto. Ao invés disso, eu me levantei e a tomei nos braços, deslizando meus dedos entre os botões do vestido dela. Heidi não ofereceu resistência, como sempre. Em alguns minutos eu a havia despido completamente. Não havia muita luz na caverna subterrânea, mas nós não precisávamos de luz por vários motivos. Primeiro porque a visão aguçada dos vampiros é ainda melhor durante a noite, segundo porque eu conhecia o corpo dela perfeitamente bem, e não precisava dos olhos para muitas coisas.
Eu a beijei, enquanto me livrava da minha roupa. Desci com minha boca pela pele do pescoço, do ombro, pela clavícula e os seios, onde eu me detive por um longo tempo. Eu a encostei na parede de pedra úmida e fria, e a apertei contra meu corpo. Já fazia um tempo que eu não tinha uma noite assim, mas algumas coisas, a gente nunca esquece.
Quando o dia começou a amanhecer, eu estava sozinho – parte do meu relacionamento com Heidi consistia em não sermos vistos juntos. Eu permaneci deitado no chão, usando apenas as calças de linho e pensei. Por melhor que a noite tivesse sido – e eu não posso dizer que não foi boa – não era isso que eu queria. Não era ela que eu queria. Eu me sentia vazio e extremamente superficial. Eu havia passado a noite nos braços de uma mulher para quem eu jamais poderia dar meu coração. Fiquei pensando nisso por várias horas, tentando entender o que se passava comigo, eu não conseguia entender. A única coisa que eu entendia era que nada preenchia o vazio da minha alma, eu era como um tronco oco, vazio e sem vida.
No meio do dia, eu voltei para o castelo e, depois de tomar um banho e me vestir, fui encontrar-me com Aro na sala de reuniões. Ele estava conversando com Vitor. Eu entrei e me aproximei.
- Como eu dizia, amigo Vitor, Demetri é o responsável por Satine. Ele cuida dela desde que era um bebê. Também foi ele que a encontrou na campina e é por ele que minha princesinha se diz apaixonada.
Vitor sorriu e apertou minha mão.
- Fez um bom trabalho, general. Tenho certeza de que a menina ainda guarda muitas surpresas agradáveis para os Volturi.
Eu me limitei a assentir com a cabeça. Eu geralmente não sou um homem de muitas palavras e naquela manhã eu estava muito para conversas.
O mestre voltou-se para mim e com a mão em meu ombro, proferiu minha sentença de morte.
- Não precisa mais preocupar-se com ela, Demetri, meu caro. Vitor cuidará de Satine daqui para á frente.
Eu não fui capaz de dizer nada. Não sabia o que dizer. As palavras simplesmente não apareciam em minha mente. Tudo o que eu via era aquele pequeno cesto. Ela correndo para mim, em seus passinhos cambaleantes, seus olhinhos assustados, seu sorriso doce.
Eu assenti novamente com a cabeça e virei de costas, eu não conseguiria ficar ali por mais tempo. Sem me importar com que meu mestre pensaria, eu saí do castelo. Á luz do dia eu caminhei pelas sombras até a cidade. Eu não sabia o que fazer, nem sabia aonde ir, mas eu sabia quem deveria procurar – a única pessoa que entenderia meus sentimentos, sem que eu mesmo os entendesse.
Eu tentei ser suave ao bater na velha porta de madeira da casinha antiga que ficava no final da rua principal. Não precisei repetir a batida, logo os olhos doces e o sorriso confortador de minha amiga Filomena receberam-me.
Não precisei dizer nada, mesmo porque, eu acho que meus olhos me denunciaram. Filomena fez sinal para que eu entrasse, e uma vez dentro da casa, ela me abraçou. Eu desmoronei nos braços dela. Filomena me conduziu até uma ampla cozinha, onde eu me sentei em uma cadeira de madeira. Ela tentou me soltar, mas eu segurei sua mão com firmeza. Era como se aquela gentil senhora fosse toda a minha força naquele momento.
- Eles vão tirá-la de mim, Filó.
Foram as únicas palavras que saíram de minha boca. Ela puxou uma cadeira e sentou-se em frente a mim. Eu deixei meu rosto cair sobre minhas mãos, abaixadas.
Filomena acariciou meu cabelo, enquanto pequenas lágrimas se formavam em seus olhos. Ela era tão doce e tão gentil e parecia não se preocupar em ter um vampiro em sua cozinha, em plena luz do dia. Suas mãos suaves se arrastaram pelos fios do meu cabelo, confortando-me silenciosamente. Desde que Satine havia crescido, Filomena não ia muito ao castelo. Mesmo assim, o amor e o cuidado que as unia era um laço indestrutível.
- Não se preocupe general. Ela voltará.
Eu estava desesperado e cansado de fingir o tempo todo que tudo era normal, eu queria só explodir minha dor. Eu queria apenas expressar tudo que se passava em meu coração, e eu sabia que com ela, eu poderia.
- Filó, ela não voltará. Ela não voltara para aquele lugar terrível cheio de mortos-vivos. Ela se esquecerá de mim, e eu não sei se posso lidar com isso.
Filomena segurou minha mão, fazendo com que eu a olhasse nos olhos.
- General. Sei que é um homem inteligente e crédulo. Preciso dividir um segredo com você.
Eu a olhei com curiosidade. Ela permaneceu serena, como sempre.
- Eu sou uma feiticeira. Acredita nisso?
Eu assenti com a cabeça. Na terra em que eu nasci, muitas mulheres eram feiticeiras e eu realmente acreditava nisso.
- E acredita que eu possa ver o futuro?
Eu assenti novamente.
- Nossa pequena criança será sua, sempre. Ninguém irá tirá-la de você, simplesmente porque o futuro lhes reserva muitas surpresas.
Por um momento, eu não me senti mais triste. Por uma fração de tempo eu pensei que talvez ela estivesse certa. Eu queria que ela estivesse.
Suspirei profundamente, soltando o ar devagar pela boca.
- Dê tempo ao tempo, general. As coisas se resolverão sozinhas. Nossa menina precisa ir, para perceber que o que ela realmente ama está aqui. Deixe-a ir, deixe-a viver, e ela voltará. Na hora certa e da maneira certa, Satine retornará para os seus braços.
Eu a abracei novamente. Por mais simples que fossem as palavras da bruxa Filomena, elas haviam acalmado meu coração. Eu não sentia mais como se fosse explodir. Filomena me acompanhou até a porta e beijou meu rosto, suas mãos quentes e suaves deslizaram por meu rosto como se eu não fosse um monstro.
- Diga a pequena Satine que Filó sentirá saudades dela. Peça a ela que me escreva contando como estão as coisas, e diga que eu lhe mandei um beijo.
Eu me despedi de Filomena e andei, ainda pelas sombras, até o castelo.
Aro não gostava que Satine fosse á cidade para ver Filomena, então ela só ia quando ele não estava.
Eu me sentei no pátio, em frente á entrada do castelo e deixei o sol aquecer a minha pele. Vitor sentou-se ao meu lado. Quando ele falou, sua voz era confortadora e sincera.
- Eu vou cuidar dela, Demetri, não se preocupe.
Eu queria dizer a ele que eu sabia disso e que entendia, mas tive medo de que minhas palavras me traíssem, então eu permaneci em silêncio. Vitor continuou.
- Vejo o quanto você se preocupa com ela, e vejo o quanto ela o ama. Eu vou cuidar dela para você, como se fosse minha filha. Não tenha medo. Satine é forte e decidida e eu vou ensiná-la a confiar nisso.
Eu me virei para Vitor e o encarei por alguns minutos. Ele era um homem fino e muito bem educado. Vitor tinha hábitos peculiares de alimentação para um vampiro, ele era o que chamamos de vegetariano, e por alguma razão eu confiava nele. Eu sabia que ele a ensinaria muitas coisas e que mostraria a ela a beleza da vida fora daqueles muros, e eu queria isso para ela.
- Faça isso, e terá minha eterna gratidão.
Eu permaneci ainda algum tempo ali, sentado no pátio, Até a noite cair. Satine apareceu. Ela caminhou até mim e sentou-se ao meu lado, cruzando as pernas.
- Eu te procurei o dia todo.
Eu não queria encara-la, não queria que ela percebesse minha tristeza, mas eu não conseguia mentir para ela.
- Eu fui ver Filó.
Seus olhinhos se acenderam.
- E como ela está? Disse a ela que eu estou com saudades? Disse que eu a amo? – então se rosto se fechou – porque não me levou? Eu queria vê-la.
Entre todas as perguntas, eu me limitei a responder o mínimo possível.
- Era uma conversa de adultos. E sim, ela sabe que você a ama e também está com saudades.
- Você disse a ela que eu vou embora?
As palavras provocaram uma fisgada em meu peito.
- Sim, eu disse. Ela disse que sentirá saudades. Pediu a você que escreva.
Ela se aconchegou em meu colo, e enterrou o rosto em meu peito.
- Eu ainda não quero ir.
- Eu também não quero que você vá, baby, mas você precisa.
- É tanto tempo.
- Vai passar rápido.
- Não vai, não.
- É claro que vai.
- Quem vai segurar minha mão quando eu tiver um pesadelo? E quando eu cair? E quando eu estiver triste?
- Eu vou estar sempre com você. Basta que você pense em mim, eu estarei pensando em você.
Eu apontei para o céu estrelado da Toscana e localizei a ursa maior.
- Vê aquela estrela?
- Sim.
- Estou dando ela de presente a você. Á partir de agora, aquela é a nossa estrela. Sempre que estiver precisando de mim, procure por ela no céu, e você saberá que eu estou fazendo a mesma coisa e pensando em você.
Ela me abraçou mais forte e eu senti as lágrimas úmidas descerem por meu peito.
- Eu te amo – ela sussurrou.
Eu beijei o alto de sua cabeça, inebriando-me com o cheiro de seu cabelo.
- Eu também.
Eu a aconcheguei em meus braços pelo resto da noite. Ainda não queria deixa-la.
Na manhã seguinte, o inevitável aconteceu. Eu me vi na estação de trem, carregando uma criança pela mão, como se minha vida fosse normal.
Antes de embarcar ela me abraçou fortemente segurando a respiração.
- Eu prometo que não vou chorar, Demetri. Quando eu choro, sei que você fica triste, e eu não quero que você fique triste.
Eu não conseguia me despedir dela, ao invés disso, eu a puxei mais perto, aspirando seu cheiro para perto de mim. Ela continuou.
- Prometo que vou aprender tudinho, e que vou ser uma ótima princesa – e então ela acrescentou – para você. Mas eu quero que você me prometa uma coisa.
- Diga.


Autora: Bia Kishi
- Prometa que quando eu voltar, vou encontrá-lo aqui, me esperando.
Eu queria dizer muitas coisas, queria que ela entendesse que eu passaria todos os dias destes dois anos não fazendo nada mais do que espera-la, mas eu resumi tudo em uma palavra.
- Sempre.
Ela me beijou o rosto e se foi.
Quando aquele trem dobrou a primeira colina e sumiu de minha vista, eu percebi o inevitável – não seria fácil sem ela.

2 comentários:

sandry costa disse...

aaaaaaaaaaaaaa
perfeito, me apaixonei pela sua historia
vou morrer de curiosidade ate o proximo cap
estou amando o aro ^^ kk
parabens

Bia disse...

Thanks for all!!!

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